por Juca Kfouri
Impossível dissociar minha adolescência da rádio Panamericana.
Joseval Peixoto narrando “as bandeiras estão tremulando, tremulando”, e Leônidas da Silva, “que conhece porque esteve lá”, comentando.
E o Show de Rádio, com Estevam Sangirardi e seus personagens símbolos dos torcedores dos clubes grandes paulistas, o grã-fino Didu Morumbi, o breaco Joca, o Comendador Fumagalli, o Zé das Docas, que faziam
você rir mesmo depois de uma derrota. E o meu time mais perdia que vencia.
A Pan, muito antes de ser Jovem Pan, sempre foi conservadora, jamais burra e panfletária.
Com o jornalismo dirigido por Fernando Vieira de Mello, fazia pesquisas tão bem feitas que, na eleição para prefeito paulistano em 1985, cravou, contra todos os demais institutos, a vitória de Jânio Quadros sobre Fernando Henrique Cardoso. Doeu, mas acertou.
E tinha o “Homem do Tempo”, Narciso Vernizzi, e o “repita”, para enfatizar o horário.
Meu rádio à prova d’água só pega a Pan e costumo tomar banho antes do almoço ou do jantar.
Daí muitas vezes ouvir Os Pingos nos Is, dissonante de programação equilibrada, capaz de imprimir ferida tão esquizofrênica à Pan que há quem a chame de Jovem Ku Klux Klan.
Voltada para expressiva audiência fundamentalista, suas enquetes, sempre a favor do governo federal, dão resultados que se aproximam invariavelmente de 100%, com o negacionismo ocupando o que deveria ser
jornalismo, a ponto de ter uma voz de Los Angeles que recusou a vitória de Joe Biden até depois da posse dele;
outra de Brasília que prima pelo reacionarismo; mais uma, do Rio, contra Oswaldo Cruz e, em São Paulo, um
apresentador que mais parece agente funerário, coadjuvado pelo inacreditável camaleão neopentecostal Urubu de Taquaritinga.
Este mistura esgares com certezas sobre a morte política de Lula, a impossibilidade de Boulos chegar ao segundo turno na eleição municipal passada e entrevistas com astros da extrema direita, além de babar ovo até para Roberto Jefferson e se achar “jornalista independente”. Como se diz nas redações, o mais perto que chegou do Prêmio Pulitzer foi ao agredir Glenn Greenwald.
Passado o governo genocida, será difícil para a Pan recuperar a imagem. Uma pena