Fotojornalismo: dor, luto e resistência no ensaio de Mads Nissen

por Mads Nissen | texto de Paulo Zocchi

“O primeiro abraço”. A primeira foto na nossa galeria abaixo, captada em 5 de agosto de 2020, em São Paulo, tornou-se a grande vencedora do World Press Photo 2021. Seu autor é o dinamarquês Mads Nissen, de 41 anos, que veio ao Brasil no ano passado, assim que visualizou a amplitude do desastre em curso com a pandemia. Nissen, que já havia vencido o prêmio em 2015, atendeu prontamente ao contato da jornalista Adriana Franco, do Unidade, após o anúncio do prêmio, em 15 de abril, respondendo suas perguntas (veja a entrevista completa aqui) e enviando as fotos para a composição destas páginas.

A América do Sul é um ambiente conhecido pelo fotojornalista, que morou na Venezuela na adolescência, é casado com uma colombiana e já fez várias reportagens pelo continente. Sobre sua decisão de viajar ao Brasil, responde: “Senti uma grande urgência de documentar a crise sanitária com os meus próprios olhos. Dos cemitérios às favelas, vi o sofrimento e o luto, mas também a resistência, a esperança e a cordialidade que são tão vivos na cultura brasileira”. E, com indignação, aponta a responsabilidade direta de Jair Bolsonaro pela amplitude da tragédia.

Sobre a foto vencedora, Nissen narra que, durante a reportagem, ouviu falar da “cortina do abraço”, que casas de acolhimento de idosos estavam adotando: uma grossa folha de plástico transparente, com dois pares de mangas, para que as pessoas pudessem se abraçar sem ter contato direto. Numa primeira casa, vivenciou muita emoção, mas as condições não eram boas para as fotos.

Na residência Viva Bem, porém, chegou no momento que a “cortina” seria inaugurada. Havia muita expectativa de idosos e seus parentes, além de uma excelente luz solar que banhava a cena. Os idosos estavam isolados havia cinco meses. “Eu procurava um tipo de emoção humana universal que transcende tempo e espaço. Essa é a imagem fotográfica que eu amo. A fotografia na qual sou tocado por mim mesmo. Tentei chegar ao cerne, mantendo tudo simples. Ângulos retos, sem fundos, só a pura emoção”, relata.

“Foi assim que fiz esta imagem de Adriana abraçando Rosa. Apenas fiquei ali com a minha câmera, um pouco emocionado. Foi tão alegre e comovente testemunhar todo esse amor e ternura neste país que está sofrendo tanto durante esta pandemia mortífera.”
Mads Nissen afirma que se sente “profundamente honrado” por receber o prêmio com um trabalho “que não apenas documenta a dura brutalidade desta pandemia, mas pode também inspirar esperança, compaixão e solidariedade entre todos nós”. Acompanhe um pouco do trabalho de Nissen nestas duas páginas do Unidade.