VETERANOS MARCAM AS HISTÓRIAS DA REGIONAL BAURU

Dois profissionais com décadas de atividade são exemplos do jornalismo exercido no interior do estado

Os jornalistas sindicalizados Luciano Dias Pires e Altino Correia trilharam carreiras consagradas na imprensa de Bauru e de Presidente Prudente, cidades com grande agitação dos meios de comunicação, possuindo rádios, emissoras de TV e jornais impressos e revistas.

Nesses ambientes efervescentes para a cultura da informação que Luciano, 96 anos, e Altino 89 anos, são referências da imprensa e ativos em seus projetos jornalísticos. Esta edição de UNIDADE conta um pouco do muito que Luciano e Altino já fizeram pelo jornalismo e pela Regional Bauru do Sindicato dos Jornalistas.

ALTINO CORREIA, O AMIGO PRUDENTINO DE AUDÁLIO DANTAS

Jornalista de Presidente Prudente carrega histórias de luta e resistência

por Tânia Brandão

Inquieto e sempre em busca de novos aprendizados. Um dos mais antigos associados ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), ele continua na ativa aos 89 anos de idade. Estamos falando do jornalista multimídia Altino Correia, ícone do jornalismo do interior de São Paulo. Nascido na cidade de Rio de Contas, na Bahia, ele tinha 4 anos de idade quando sua família foi para Presidente Venceslau, onde seus pais trabalhariam nas lavouras de café. Em 1953, começou sua relação com o rádio e o jornalismo.

Já se vão 60 anos desde a sua sindicalização, em 31 de julho de 1963. Altino Correia é um exemplo de crença no esforço coletivo dos trabalhadores e trabalhadoras para conquistar direitos e melhorias salariais e sociais. Altino foi diretor de base da antiga Regional Oeste Paulista, da qual participa desde a sua criação.

Seo Altino, como é tratado pelos colegas mais jovens, é um dos jornalistas com mais anos de carreira do interior paulista, tendo iniciado na profissão na Rádio Presidente Venceslau ZYH-7. Trabalhou nos mais diversos meios de comunicação, como impresso, televisão e web. Atuou nos jornais Última Hora, Estadão, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil e O Globo. Também trabalhou na Rádio Presidente Prudente, Rádio Globo-Excelsior (CBN), O Imparcial, TV Globo Bauru, TV Band Prudente e Rede Vida de Televisão.

© ARQUIVO PESSOAL

Altino (ao lado) lembra da ligação do livro de Audálio Dantas, As Duas Guerras de Vlado Herzog (ao lado), com a cidade de Presidente Prudente. Foto: Reprodução

Pique de garoto

Hoje, com 70 anos de carreira, mantém o pique de um garoto e segue na ativa com o blog Memórias de um Repórter do Interior, criado em 2007 para destacar histórias e personalidades de Presidente Prudente e região.

Ao longo das sete décadas de profissão, destacam-se entrevistas com o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, então presidente da República, em 1965, e Jânio Quadros, em época de campanha presidencial. Teve também a oportunidade de conhecer João Goulart e o ex-governador do estado da Guanabara, o também jornalista Carlos Lacerda.

o jornalista Audálio Dantas, ex-presidente do SJSP. Seo Altino não cansa de recordar o apoio Entre seus amigos de profissão, destaca o jornalista Audálio Dantas, ex-presidente do SJSP. Seo Altino não cansa de recordar o apoio inicial de Audálio, que, por sinal, foi convidado para a palestra “Liberdade de Imprensa” para estudantes de jornalismo, em Presidente Prudente, em 25 de outubro de 1975, na mesma noite em que Vladimir Herzog foi executado no DOI-Codi em São Paulo.

Altino revela que Audálio decidiu escrever uma obra contando toda a história, e pode-se dizer que seu livro As Duas Guerras de Vlado Herzog nasceu em Prudente e tornou-se uma grande referência, inclusive com várias citações do munícipio, devido à forte ligação com a cidade. As Duas Guerras de Vlado Herzog rendeu o Prêmio Jabuti para Audálio e foi lançado em ato solene no IBC-Centro de Eventos, em Presidente Prudente.

LUCIANO DIAS PIRES, 96 ANOS DE HISTÓRIA E APAIXONADO POR BAURU

Jornalista e memorialista com 20 mil fotografias e muitas recordações na ponta da língua

por Camila Fernandes e Ricardo Santana

A história e o jornalismo o instigam, e sempre foi assim. Aos 96 anos, ele guarda cada acontecimento bauruense na memória e no acervo com mais de 20 mil fotografias de cidadãos comuns, personalidades, ruas e avenidas. Na cidade de Bauru, de quase 400 mil habitantes, Luciano Dias Pires é uma figura querida e respeitada.

Seo Luciano é o sindicalizado mais idoso da Regional Bauru. Esteve presente na inauguração da sede da Regional, em 1º de maio de 1975, quando a nomenclatura ainda era “Delegacia dos Jornalistas”, sendo o seu primeiro secretário, compondo a direção com o delegado Zarcillo Barbosa e o tesoureiro Paulo Sérgio Simonetti.

Ele nasceu em Botucatu, no dia 15 de maio de 1927, e se mudou com a família para Bauru aos dois anos. Seu pai tinha uma tipografia, e a paixão pelo jornalismo surgiu quando menino. Ao assistir as partidas do Esporte Clube Noroeste, começou a anotar a escalação dos times e os melhores momentos. Suas reportagens esportivas foram publicadas no jornal Diário de Bauru, e o jovem passou a viajar com as duas equipes de futebol da cidade na época, Noroeste e Bauru Atlético Clube (BAC), para cobertura das partidas.

Virou referência, ingressou na Associação dos Cronistas Esportivos de Bauru, tornando-se presidente da instituição tempos depois. Compôs também a diretoria do Noroeste. Tudo isso, sempre conciliando com o emprego de carreira na Rede Ferroviária Federal.

Conviveu com Pelé, quando o menino Edson jogava no BAC, e com seu pai, seo Dondinho. Sabe tudo sobre a vida do Rei do Futebol na cidade, inclusive a origem do consagrado apelido.

Luciano começou no jornalismo esportivo e atuou em várias outras áreas. Foto: Arquivo Pessoal

Reportagens marcantes

Polivalente, criou o jornal falado das rádios da cidade, grande sucesso na época. Neste período, passou a escrever para o jornal Diário de S. Paulo. Foi convidado a ser correspondente no interior por Assis Chateubriand, em 1959. Em 1970, tornou-se repórter do impresso.

Entre as reportagens mais marcantes para o periódico paulistano, Luciano se recorda de um atentado ocorrido no município: a explosão na avenida Nações Unidas no dia da visita a Bauru do então presidente da República da ditadura militar-empresarial, general Ernesto Geisel, em 13 de agosto de 1976. “Eu, como jornalista correspondente, aproveitei para fotografar todos os detalhes e corri a despachar os ‘filmes’ no ônibus Bauru – São Paulo. Este acontecimento foi capa e teve grande repercussão”, conta.

Luciano conciliou as atividades jornalísticas com o trabalho da Rede Ferroviária até 1983, quando se aposentou. Foi ainda repórter legislativo da Câmara Municipal e atuou na Gazeta Paulista.

Dois anos antes do episódio da explosão da avenida bauruense, Luciano idealizou o que o tornaria eterno: garimpar cada bairro, revelar as curiosidades e pessoas anônimas que ajudam no desenvolvimento da cidade. Assim surgiu o Bauru Ilustrado. “Eu percebi que os jornais não retratavam a outra realidade da cidade, bem como as famílias, o morador pobre e sua vivência, a origem dos bairros, dos nomes das ruas, daí criei o Bauru Ilustrado, que era um tabloide mensal de 12 páginas. A primeira história foi sobre o carregador de malas da Estação Ferroviária, nunca ninguém havia falado sobre o trabalho dele. Eu aprendi a gostar mais da Bauru de todos nós”, se emociona.

O Bauru Ilustrado durou 47 anos, com mais de 300 famílias retratadas, montado sem uso da tecnologia, e isso lhe causa imenso orgulho.

Fã de máquina de escrever, é corintiano e noroestino. Casado há 68 anos com a professora aposentada Helena, teve três filhos: Luciano, Luiz Antônio e Lucia Helena; seis netos e dois bisnetos. Da família, três membros seguiram na área da comunicação: o filho mais velho é jornalista e escritor, uma neta se formou em jornalismo e é cantora, e outra neta é relações públicas de uma ONG em Portugal.