SOBREVIVENTES EM UMA GUERRA URBANA

por Márcia Folleto

É incrível o poder das imagens e das histórias que capturam. Márcia Folleto, com sua sensibilidade e dedicação, não apenas documenta, mas também revela os aspectos mais profundos e humanos por trás de suas lentes. Em ‘Mutilados’, trabalho vencedor na categoria fotojornalismo no 45° Prêmio Vladimir Herzog, ela não se limita a mostrar a realidade crua, mas vai além, buscando trazer à luz a humanidade por trás de cada estatística, de cada vítima.

Essas histórias de vida, marcadas por traumas profundos e desafios intransponíveis, são um testemunho da resiliência humana. É comovente perceber como, mesmo diante de circunstâncias tão adversas, as pessoas mantêm sonhos simples, porém profundamente significativos. Sonhos que para muitos podem parecer banais, mas que para essas vítimas representam a liberdade, a normalidade e a possibilidade de desfrutar das pequenas alegrias da vida.

O trabalho árduo por trás desse projeto jornalístico, desde a concepção da pauta até a sua execução, revela não apenas a dedicação da equipe envolvida, mas também a importância de trazer à tona temas tão sensíveis e urgentes. A busca por dados, as entrevistas nos hospitais e a cuidadosa composição das narrativas são reflexos do comprometimento em contar histórias que muitas vezes são esquecidas ou negligenciadas pela sociedade.

Esse tipo de jornalismo, que vai além das manchetes e estatísticas, é crucial para despertar consciências, provocar reflexões e, quem sabe, motivar mudanças. São projetos como esse que nos lembram da necessidade de compaixão, empatia e da busca por soluções para os problemas que afetam tantas vidas em nossa sociedade. (Juliana Almeida)

© MÁRCIA FOLETTO. Alessandro da Silva Ribeiro, bacharel em Direito, atingido por uma bala no braço pela polícia
25/05/2023 – Alessandro Silva Ribeiro teve o braço amputado após ser atingido por um tiro de fuzil disparado por um policial militar na Penha, em 2018. Alessandro sofreu um sequestro relâmpago e estava refém no próprio carro quando bandidos trocaram tiros com a polícia.
Jorge Araújo, despachante, teve a perna arrancada por um tiro de fuzil no portão de casa. Foto Márcia Foletto
Jorge Araújo, despachante, teve a perna arrancada por um tiro de fuzil no portão de casa.
Leandro Oliveira, 39 anos, PM reformado, atingido por um tiro na cabeça disparado por assaltantes.
São Gonçalo (RJ) 25/05/2023 – Schineidler Mariano da Silva foi atingida por um tiro de fuzil na perna direita quando saia de baile funk em Jardim Catarina, São Gonçalo. Com a perna amputada, ela vive sozinha com os três filhos: Vitor, 13 anos, Jeferson, 5 anos, e Pedro, 2 anos.
Rio de Janeiro (RJ) 02/06/2023 – O PM Uender da Silveira Resende Freitas foi atingido por um tiro de fuzil na perna em uma operação e teve a perna amputada. Hoje é atleta de tiro com arco.
RI Rio de Janeiro (RJ) 25/05/2023 – O menino Luiz Rodrigo Costa Santana, de 11 anos, teve a mão amputada quando pegou uma granada achando que era uma bolinha, aos 4 anos de idade, no Morro do Chapadão. Foto Márcia Foletto
Balas e fragmentos retirados de pacientes no Hospital da
Posse, em Nova Iguaçu
Balas e fragmentos retirados de pacientes no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu