Resistência às ameaças contra renda e conquistas

Campanhas salariais dos jornalistas são marcadas pelo aumento da organização da categoria, em cenário de alta nos preço de alimentos, aluguéis e combustíveis

Em Santos, ato na TV Tribuna teve apoio de vários sindicatos e da CUT. Na capital, houve ação com o Sindicato dos Radialistas em frente à Band, RedeTV! e Record

EMISSORAS DE RÁDIO E TV INSISTEM EM REDUZIR O VALOR DOS SALÁRIOS E ACABAR COM A PPR

Um dos setores econômicos com maior solidez e capacidade de enfrentar a crise econômica aprofundada pela pandemia, as rádios e TVs paulistas se negam a garantir o mínimo aos profissionais jornalistas: a manutenção do valor dos salários, com reajuste pela inflação do período (5,2%), e das cláusulas que preveem um Programa de Participação nos Resultados (PPR) de até 45% de um salário para trabalhadores de empresas e um abono no mesmo formato para trabalhadores de fundações.

No momento do fechamento desta edição, a proposta colocada na mesa pelas empresas era reajuste salarial de 2,25% em março e 2% em outubro e um abono de 8%. Foi um avanço na negociação (após participação representativa da categoria nas assembleias e adesão significativa das redações ao chamado para vestir preto em um dia de mobilização), mas ainda traz perdas significativas, porque não repõe o valor do salário e retira a cláusula da PPR (empresas) ou abono (fundações).

A reivindicação da categoria, hoje, não é nada além do que a preservação de sua renda, tendo aberto mão de pontos cruciais como a mudança na escala de final de semana (hoje de 1×1) e regulação do home office. A diferença entre essa demanda e a proposta patronal tem grande impacto financeiro.

Uma simulação feita pelo Sindicato dos Jornalistas mostra que, no caso de um jornalista que ganhe na faixa salarial de R$ 3.000,00, as perdas que resultam da formulação patronal chegam, em um ano, a R$ 2.057! Para quem ganha cerca de R$ 5.000,00 e trabalhe em uma grande empresa, com mais de 85 jornalistas, são R$ 4.216,00 a menos.

Jornalistas cobram o reconhecimento do valor de seu trabalho

“Os jornalistas se expuseram ao risco do contágio desde o início e, ao mesmo tempo, aumentou a busca da população pela informação jornalística. Quem garantiu isso foram os jornalistas e os radialistas, com seu trabalho”, afirma o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Paulo Zocchi.

As emissoras de rádio e TV têm condições de fazer aquilo a que se negam. A Record, por exemplo, recebeu pelo menos R$ 13 milhões do governo federal em 2020; a Rede Globo teve recuo nos resultados, mas seguiu aferindo lucros altos, com a GloboNews tendo o melhor início de ano da sua história; a audiência das rádios aumentou 74% no ano passado.

PROFISSIONAIS SE MOBILIZAM PARA NOVA CAMPANHA SALARIAL DE JORNAIS E REVISTAS DA CAPITAL

Poucas semanas após concluírem as negociações sobre a Convenção Coletiva relativa a junho/2020 até maio/2021, os jornalistas do setor já debatem e se preparam para a próxima campanha salarial.

O acordo relativo à data-base do ano passado foi assinado, em 18 de fevereiro, com a correção de 2,05% da inflação para salários de até R$ 10 mil – e fixo de R$ 205 para os salários acima (a partir de 1° de janeiro), das cláusulas econômicas (a partir de 1° de fevereiro), e manutenção da multa da PLR, a ser integralmente paga até maio, ainda durante a vigência da atual Convenção.

Embora tenha aceitado a proposta patronal, a categoria manteve-se descontente com a negativa das empresas de pagar o reajuste retroativo, a pelo menos, setembro do ano passado, última contraproposta dos jornalistas. Mas considerou a preservação do valor real do salário, um ponto de partida para iniciar a campanha salarial 2021-2022 imediatamente.

“A negociação se deu em condições difíceis e, ainda assim, a categoria esteve mobilizada desde o início, em assembleias virtuais que chegaram a reunir cem jornalistas. Nós sabemos que a conjuntura econômica e social continua incerta e apenas com a organização da categoria conseguiremos lutar pela recomposição salarial, ganhos reais e o avanço de demandas importantes, como a questão do home office”, avalia Thiago Tanji, jornalista da Editora Globo e diretor do Sindicato dos Jornalistas.

Os jornalistas criaram uma comissão a partir das redações para aumentar a organização e a capacidade de resistência e mobilização. E querem pautar questões como jornada e horas extras e regulação específica para o trabalho em home office – a Convenção Coletiva já garante a observação da jornada também em trabalho remoto, mas não aborda questões como controle de ponto, ajuda de custo para internet e telefone e outros.

DIREÇÃO DA EBC TENTA TIRAR CONQUISTAS E REDUZIR A RENDA

Na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), submetida diretamente ao governo federal, jornalistas e radialistas das três praças (Brasília, Rio e São Paulo) enfrentam há meses a tentativa de retirada de direitos inscritos no Acordo Coletivo de Trabalho. Sem qualquer possibilidade de diálogo na mesa de negociação realizada com os militares que hoje dirigem a empresa, a campanha salarial está submetida a uma mediação do vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), responsável por dissídios coletivos da corte em casos de estatais ligadas à União.

São pelo menos 15 pontos de divergência. Entre eles, o reajuste salarial, a proposta de criar um banco de horas prejudicial aos empregados, e de acabar com a 13ª parcela do auxílio-alimentação (“vale-peru”), o que tem impacto principalmente entre os trabalhadores com salários mais baixos, frente a uma expressiva alta dos preços dos alimentos. Os sindicatos dos trabalhadores destacam que o 13° ticket-alimentação e outras conquistas foram obtidas em anos nos quais os profissionais não tiveram reajuste salarial pela inflação, como forma de compensar as perdas, e que retirá-las significa reduzir a renda – principalmente diante da intransigência do governo federal quanto à reposição salarial.

Os trabalhadores estão em estado de greve. A data-base foi em 1° de novembro.

RTV CULTURA: PERDAS SALARIAIS CHEGAM A 43%

Os jornalistas da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Rádio e da TV Cultura, estão com os salários praticamente congelados desde dezembro de 2013. A partir desse mês, os profissionais tiveram um único reajuste de 3,5%, em 2018. As persas acumuladas são de 43%.

Junto com radialistas (que acumulam perdas de 38%), os jornalistas da Cultura insistem na necessidade de formalizar um Acordo Coletivo de Trabalho para todos os trabalhadores da fundação. O maior obstáculo é o governo Doria, que segue a política anterior de não autorizar reajuste e nem formalizar de direitos em acordo. A negociação está em curso, e os sindicatos aguardam retorno do órgão estadual responsável.

DATA-BASE DE JORNAIS E REVISTAS DO INTERIOR É EM JUNHO

Está marcada para 25 de março a assembleia que definirá a pauta de reivindicações dos jornalistas que trabalham no setor de jornais e revistas no interior do estado, Grande São Paulo e litoral. A categoria chega à campanha salarial 2021 com os salários preservados, graças ao acordo assinado em dezembro, que repôs a inflação registrada em junho de 2020.