Ossos e pelancas

Domingo Peixoto, vencedor da categoria Fotografia do Prêmio Vladimir Herzog, mostrou “A Dor da Fome” 

Eduardo Viné Boldt

A fome voltou a dar as caras no país. A pandemia do novo coronavírus, potencializada pela desastrosa gestão do governo Bolsonaro, fez o Brasil retornar aos anos 90. Mais de 33 milhões de brasileiros não sabem sequer se conseguirão fazer uma refeição por dia. A tragédia colocou ainda mais da metade dos brasileiros (58,7%) em situação de insegurança alimentar.

Os dados por si só são impactantes, mas não dão conta da agonia vivida pelas famílias. Foi buscando materializar a situação que o premiado fotógrafo carioca Domingos Peixoto trabalhou ao longo de dois meses na investigação e apuração dessa história que descreve bem o Brasil contemporâneo. A Dor da Fome foi publicada no jornal Extra em setembro de 2021 e choca pela forma crua como aborda o tema.

Natural da Baixada Fluminense, o repórter fotográfico de 55 anos acompanhou a doação de pelancas e ossos recolhidos em açougues e supermercados para moradores e famílias no bairro do Catete, zona sul da cidade do Rio.

O que era antes destinado apenas a animais passou a ser a única forma de alimento para diversas famílias. A reportagem foi vencedora do 44o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria Fotografia, e acabou pautando parte dos candidatos na última eleição. O trabalho de Domingos expôs as entranhas do descaso do governo Bolsonaro pela população mais pobre e desfavorecida do país.