por Mônica Bento
A cobertura jornalística de uma tragédia é sempre desafiadora; além de exigir alto desempenho profissional, requer controle das emoções. Difícil manter distanciamento dos fatos quando se está submerso neles, ainda mais em casos de eventos extremos, que nos mostram como somos pequenos diante da natureza. As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul repercutiram na imprensa internacional e se destacaram no noticiário, soando o alarme climático mais uma vez.
Em meio à destruição e tristeza, o trabalho incansável dos profissionais da imprensa seguiu o ritmo da enxurrada de acontecimentos e mostrou a magnitude da destruição, o sofrimento das vítimas e a força das pessoas diante da adversidade. Relatos de quem esteve na linha de frente nos fazem refletir sobre em que parte da preservação do planeta está também a preservação da espécie humana. A seguir depoimentos de associados da ARFOC-SP, que expressaram as dificuldades e o cansaço, mas também a solidariedade e a superação.
Amanda Perobelli, Agência Reuters
“Foram muitos desafios nessa cobertura, mas certamente a logística foi uma das grandes dificuldades, já que os acessos estavam destruídos, o que tornava tudo muito mais difícil. Busquei mostrar o sofrimento daquelas pessoas, por isso foquei meu trabalho em Eldorado do Sul, cidade vizinha de Porto Alegre bastante afetada, na qual, apesar de ilhada, consegui chegar. Foi onde conheci o casal Edite e João, que foram os personagens principais da minha cobertura, dentre tantas histórias. Queria mostrar os rostos da tragédia e essa família me permitiu acompanhar a rotina deles até a volta para casa. Outro lugar muito impressionante foi a cidade de Arroio do Meio, onde encontrei o casal Jussara e Fernando que não tiveram a mesma sorte; a força das águas destruiu tudo, inclusive a casa deles, deixando só a base. São pessoas, entre milhares de outras, que já vivem as terríveis consequências das mudanças climáticas.”
Ian Maenfeld, fotógrafo independente
“Procurei fazer uma cobertura com olhar documental porque fui por minha conta e risco. Um dos lugares mais marcantes foi o Vale do Taquari, município de Estrela, que simplesmente deixou de existir. Eu queria contextualizar o local, mostrar a destruição generalizada. Os moradores não irão mais reconstruir nada lá, vão migrar para um lugar mais distante do Rio Taquari. Um novo começo. Outro registro que me marcou foi no bairro de Sarandi, em Porto Alegre, região mais atingida pelas águas do rio Guaíba. O que me tocou foi a capacidade de adaptação das pessoas diante do caos social e ambiental, a resiliência de moradores que permaneceram em suas casas e como os voluntários levaram de mantimentos a conselhos nos botes de resgate.”
Isaac Fontana, Agência EFE
“Foi minha primeira cobertura de catástrofe, então foi tudo novo pra mim, uma experiência e tanto. Dei sorte de chegar em Porto Alegre antes do aeroporto fechar, isso fez toda diferença. Como a logística era muito complicada, estar no epicentro foi crucial porque tínhamos que fazer apostas para a cobertura diária e torcer para dar.