Milton Bellintani: a biblioteca dos jornalistas

Inaugurada em abril, na festa de aniversário dos 86 anos do SJSP, a biblioteca recebeu muitas doações de autores jornalistas e de algumas editoras

por João Marques

Foi inaugurada oficialmente em 13 de abril a Biblioteca Milton Bellintani, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). O evento marcou a comemoração de 86 anos de fundação da entidade.

A organização dos livros do SJSP para montar a biblioteca começou antes da pandemia. O Sindicato contratou a assessoria especializada de um bibliotecário, que fez a proposta de organização, e um estagiário em Biblioteconomia. Dessa forma, teve início a catalogação de todos os exemplares acumulados durante sua história e espalhados pela sede. Em seguida, seria lançada uma campanha para arrecadar fundos para este projeto e também para um centro de memória, que, antes mesmo de ser iniciada, foi suspensa em virtude da quarentena.

A campanha de arrecadação não aconteceu, mas a catalogação dos livros foi retomada. Até o início deste ano, totalizou 1.811 exemplares, com 1.574 títulos cadastrados, e a biblioteca, finalmente, pôde ser inaugurada. No dia da festa e durante toda aquela semana, depois de campanha para doação, recebemos mais de 600 exemplares de livros escritos por jornalistas, cedidos pelos próprios autores ou por editoras como Alameda, Arquipélago, Companhia das Letras e Papagaio.

Além dessas doações, os livros da biblioteca da Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos (Ajaesp) também foram incorporados ao acervo da Milton Bellintani. Com mais de 500 títulos, a coleção tem algumas preciosidades, como um exemplar autografado por Vinicius de Moraes. Trata-se de uma antologia poética doada à associação pela companheira Tellé Cardim, a “Telezinha”, como está escrito na dedicatória, tratamento que confere autenticidade ao volume — Vinicius tinha o hábito de chamar as pessoas mais próximas pelo diminutivo.

Recebemos também como doação parte da biblioteca pessoal do presidente da Ajaesp, Amadeu Mêmolo, com cerca de 500 livros. Agora, com mais de 1.600 novos exemplares para serem catalogados, começa a segunda etapa da organização do acervo, ainda sob a supervisão do bibliotecário que assessora o SJSP e a atividade de uma nova estagiária em Biblioteconomia.

Acervo da biblioteca

O acervo da Biblioteca Milton Bellintani reúne prioritariamente obras sobre Jornalismo, Fotografia, Rádio, Televisão, Humor, Artes Gráficas, História, Movimento Sindical e Popular, Direitos e Legislação Trabalhista, e obras literárias de interesse. Há também a seção “Livros de Autoria de Jornalistas”, independentemente do gênero, e a de “Publicações sobre a Ditadura Militar (1964-1985)”. O perfil do acervo será objeto de debates periódicos visando ao seu aprimoramento, e orientará as políticas de aquisições e recebimento de doações.

A biblioteca pretende dar suporte, na medida de suas possibilidades, ao ensino-aprendizagem, à pesquisa científica, à extensão ou à fruição da literatura, auxiliando no trabalho de preservação da memória do SJSP e da Federação Nacional dos Jornalistas. Destina-se, fundamentalmente, a estimular o interesse de jornalistas e estudantes de jornalismo pela leitura de livros e de outras publicações de qualidade — de caráter científico, técnico, artístico ou ficcional literário — e que sejam capazes de enriquecer o repertório cultural da nossa categoria profissional.

Jornalistas sindicalizados(as), estudantes pré-sindicalizados(as), funcionárias e funcionários do Sindicato têm direito ao empréstimo domiciliar. O público em geral poderá consultar e pesquisar o acervo nas dependências da biblioteca e do auditório Vladimir Herzog. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas.

O nome da biblioteca presta homenagem ao jornalista e professor Milton Bellintani, que atuou e militou pelos direitos humanos, por mais de 30 anos, com o foco na verdade, memória e justiça, e foi diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política. Bellintani coordenou a Comissão da Verdade e Justiça do SJSP e faleceu em 2015, antes de ver concluída a publicação do relatório. Entre as recomendações do documento, havia um destaque: “Iniciar a montagem de uma biblioteca na sede da entidade com todos os livros de referência sobre o período, escritos por jornalistas ou que tenham o jornalismo como objeto de estudo durante a ditadura”. Grande parte dos títulos sobre direitos humanos da nossa biblioteca veio da coleção particular de Bellintani.

Centro de Memória

A biblioteca é o primeiro passo para a constituição de um Centro de Documentação e Memória do SJSP, organizando e disponibilizando os materiais referentes à sua história de lutas sindicais, sociais democráticas. Entre os seus objetivos, está o de resgatar a história do jornal Unidade, do boletim Mural e de outras publicações, e catalogar os diversos documentos e objetos históricos.

Em 1997, quando o Sindicato completou 60 anos, foi publicado um livro, organizado pelo jornalista José Hamilton Ribeiro, contando a história da entidade. Para a produção desse livro, foram consultados e arquivados diversos documentos históricos. A organização do Centro de Memória deverá começar por esse arquivo.

Foi criada também a Comissão do Livro e Leitura do SJSP. De responsabilidade da Secretaria de Comunicação e Cultura e aberta à categoria, tem como funções coordenar o funcionamento da biblioteca e supervisionar a política de empréstimos; além de discutir e implementar, com a Secretaria de Formação Sindical e Profissional, lançamentos de livros, debates com autoras e autores e outras atividades ligadas à promoção da leitura, da literatura, do trabalho jornalístico e da cultura. Para integrar essa comissão, basta enviar mensagem para o Paulo Zocchi (11) 98858-9739 ou o João Marques (11) 99191-7930.