por Paulo Zocchi
Sindicalizado número 7.607, Henrique de Souza Filho usou, como poucos, o humor e o cartum como armas poderosas contra a ditadura militar. Como se sabe, os ditadores odeiam o riso.
Sob o terrível regime de 64, Henfil tornou-se um nome célebre: designava o mais consagrado humorista e cartunista do Brasil do período.
Vários de seus personagens entraram para a vida dos brasileiros: Graúna, Bode Orelana, Capitão Zeferino, os Fradinhos. As Cartas da Mãe, presentes semanalmente na IstoÉ a partir de 1977, ganharam notoriedade: os leitores esperavam avidamente a sua publicação, e acabaram incorporadas à icônica canção O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, na alusão à “volta do irmão do Henfil” (referência a Betinho, o sociólogo Herbert de Souza, importante liderança no combate à fome).
Nascido em 1944, em Ribeirão das Neves (MG), Henfil cresceu em Belo Horizonte. Ainda adolescente, adere a movimentos católicos de esquerda (dessa época, vem sua inspiração para criar os Fradinhos). No início dos anos 1960, começa seu trabalho na imprensa como cartunista, na revista Alterosa. Em 1965, está no Diário de Minas.
Vai em 1967 para o Rio e publica seus quadrinhos no Jornal dos Sports. Chega em 1969 ao Pasquim, onde encontra Jaguar, Ziraldo, Fortuna, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, entre outros. O jornal satírico sólido bastião da liberdade de imprensa no pós-AI-5, teve o grosso de sua redação presa em certo momento, mas continuou saindo com grandes tiragens. Henfil amplia a sua notoriedade ao publicar seus quadrinhos também no Jornal do Brasil.
Hemofílico, sua doença o leva a viver mais de um ano nos EUA no início dos anos 70. Vai também à China. Essas experiências rendem dois livros: Diário de um Cucaracha (1976) e Henfil na China (antes da Coca-Cola) (1981).
Henfil desenvolve intensa militância política no final dos anos 1970, na luta pela anistia dos presos políticos. Participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980, e do movimento das Diretas Já (1983-84).
Sua atuação em nosso Sindicato está registrada em inúmeros jornais Unidade e boletins Mural do início dos anos 1980. Henfil integra a diretoria do Sindicato de 1984 a 1987.
Morre em 1988, aos 43 anos, de aids, contraída em uma das periódicas transfusões de sangue decorrentes de sua doença. Deixa um legado artístico com múltiplas dimensões (fez ainda incursões em teatro e TV), mas sobretudo de renovação profunda do humor no Brasil, ligando-o de maneira visceral à luta contra a opressão e em defesa dos direitos humanos. Como ele mesmo dizia, “o verdadeiro humor dá um soco no fígado de quem oprime”.