Memória: A vida militante de Plínio Mello

Presidente do Sindicato de 1944 a 1947, iniciou sua atuação política na juventude e a manteve até uma idade avançada

por Paulo Zocchi

Plínio Mello em foto de 1935, ano em que seria preso por sua atuação política de esquerda, ficando dois anos detido sem acusação. Foto: reprodução

O sexto presidente do nosso Sindicato (1944-1947) era um gaúcho de Cruz Alta, com ativa militância política desde a juventude, e que a manteve até o final de sua vida. Estudante de direito, Plínio Gomes de Mello participou da Revolução de 1923, no Rio Grande do Sul, lutando ao lado dos maragatos, contra Borges de Medeiros (que dirigiu o estado por 25 anos). Com a derrota, muda-se para o Rio de Janeiro por um ano. Vem em seguida para São Paulo, onde retoma os estudos na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e inicia a atividade jornalística. Lança a revista Mocidade, de linha nacionalista, publicada por quatro números.

Em 1927, ingressa no Partido Comunista do Brasil (PCB). Desenvolve sua atividade em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Perseguido pela polícia, foge para o Uruguai em 1929, retornando a São Paulo em 1930. Nesse ano, vai à Argentina como representante do PCB em um congresso, mas, por suas posições críticas, é expulso do partido meses depois. Em 1931, adere à Liga Comunista Internacionalista (LCI), que expressa no Brasil as ideias do revolucionário soviético Leon Trotsky, opositor internacional à liderança de Josef Stálin na União Soviética (URSS).

Passa a atuar no Sindicato dos Gráficos, que, na época, agrupava também os jornalistas (o Sindicato dos Jornalistas só seria fundado em 1937). Atua no jornal Trabalho no período da Constituinte de 1934, e é novamente preso após o levante derrotado (conhecido como Intentona Comunista) no final de 1935, que levou a forte repressão contra a esquerda em todo o Brasil. Após dois anos detido sem acusação, é libertado, volta a trabalhar como jornalista e filia-se ao Sindicato (em 22 de setembro de 1938).

Em 1943, é eleito presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, mas só consegue tomar posse em outubro de 1944, por causa das dificuldades impostas pelo Ministério do Trabalho em função de suas posições políticas. Num momento de intensas mudanças no cenário nacional e mundial – período final da 2ª Guerra Mundial (agosto de 1945) e da ditadura do Estado Novo (queda de Getúlio Vargas em outubro de 1945), com a eleição de Eurico Gaspar Dutra (dezembro de 1945) –, Plínio Mello dirigiu o Sindicato até o início de 1947. Neste período, dedicou-se intensamente às atividades sindicais.

Representou o Sindicato dos Jornalistas no Congresso Nacional dos Trabalhadores, em setembro de 1946, sendo relator do tema Liberdade e Autonomia Sindicais. Num momento em que os sindicatos estavam subordinados ao Ministério do Trabalho por força da CLT varguista, seu relatório final destacava seis pontos: liberdade para a elaboração dos estatutos pelos sindicatos, controle financeiro das entidades pelos próprios sindicalizados, autonomia frente ao Estado, simplificação dos processos para criação das entidades sindicais, liberdade total para a sindicalização dos trabalhadores, e democracia interna no funcionamento dos sindicatos.

Havia ingressado, no início de 1945, na Esquerda Democrática, que deu origem ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Como suplente, chegou a assumir a cadeira de deputado federal na década de 50 pelo PSB, ao qual se manteve vinculado até a sua extinção pelo golpe de 1964. Em 1978, elabora, juntamente com o antigo camarada de militância Mário Pedrosa, uma carta endereçada ao líder metalúrgico Luiz Inácio da Silva, apoiando a ideia de criação de um partido de trabalhadores. Em 1980, torna-se um dos fundadores do PT. Morreu aos 93 anos, em 20 de setembro de 1993, tendo sempre se mantido ligado ao Sindicato. •