Jornalismo perde Paulo Caruso

Um dos principais nomes do cartum e da charge no Brasil, teve trajetória brilhante em mais de 50 anos de carreira

por Paulo Zocchi

“Não fazemos humor simplesmente para divertir as pessoas, mas para promover a transformação delas, ao refletirem sobre o que desenhamos ou escrevemos”, afirmou em entrevista, há mais de 20 anos, o cartunista Paulo Caruso, que nos deixou em março. A frase é uma espécie de resumo de sua obra, que engrandeceu a atividade da imprensa em nosso país. Um dos maiores nomes do cartum e da charge no jornalismo brasileiro, Caruso era dono de um traço preciso e de um apurado senso crítico.

Paulo José Hespanha Caruso protagonizou uma trajetória brilhante em mais de 50 anos de carreira em alguns dos principais veículos da imprensa brasileira, incluindo a original atuação semanal no programa jornalístico Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, no qual retratava entrevistados (e entrevistadores) com frases lapidares ou argutas observações suas durante o próprio desenrolar da entrevista. Era uma atração à parte.

Iniciou sua atividade no Diário Popular, no final dos anos 1960, ainda bem jovem, passou pela imprensa alternativa, como os jornais Pasquim e Movimento, e trabalhou nas redações da Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, Veja, IstoÉ, Careta e Senhor. Colaborou também com revistas do segmento de quadrinhos, entre as quais Circo e Chiclete com Banana, e publicou parte de sua obra em livros (veja a lista no box). Recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), o do Salão de Humor de Piracicaba, o HQ Mix e o Angelo Agostini.

Gêmeo univitelino do também cartunista de destaque Chico Caruso, Paulo nasceu em 6 de dezembro de 1949 e morreu em 4 de março último, aos 73 anos.

Paulo Caruso colaborou estreitamente com o nosso Sindicato, sobretudo nos anos 1980 e 1990. Nestas páginas, compartilhamos um pouco de seu trabalho desenvolvido para o Sindicato, no espaço nomeado “Humor sem patrão”, além de cartazes e quadrinhos publicados na imprensa.

Paulo Caruso em livros

  • As Origens do Capitão Bandeira (1983)
  • Ecos do Ipiranga (1984)
  • Bar Brasil (com Alex Solnik, 1985)
  • As Mil e Uma Noites (1985, reedição 2007)
  • Bar Brasil na Nova República (1986)
  • Avenida Brasil – “A Transição Pela Via das Dúvidas” (1989)
  • Avenida Brasil – “A Sucessão está nas Ruas” (1990)
  • Avenida Brasil – “O Bonde da História” (1991)
  • Avenida Brasil – “Assim Caminha a Humanidade” (1992)
  • Avenida Brasil – “Se Meu Fusca Falasse” (1993)
  • Avenida Brasil – “O Circo do Poder” (1994)
  • Avenida Brasil – “Conjunto Nacional” (1996)
  • Avenida Brasil – “Se meu Rolls-Royce Falasse” (2006)
  • Avenida Brasil – “Enfim um País Sério” (2010)
  • São Paulo por Paulo Caruso (2004) Desenhando Longe – Cadernos de Viagem – EUA Copa 94 (2014)

Nas páginas do Unidade, em um espaço intitulado “Humor sem patrão”, ou em cartazes de eventos, entre outros trabalhos, Paulo Caruso colaborou estreitamente com o nosso Sindicato, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990

Charge alusiva à descoberta de depósitos em contas de paraísos fiscais gerenciadas por PC Farias, auxiliar de Fernando Collor (anos 1990)