ISRAEL ASSASSINA MAIS DE 100 JORNALISTAS EM GAZA E NÃO PARA

Terrorismo de Estado do regime sionista define como alvos grupos profissionais específicos, como socorristas, médicos e profissionais de mídia

por Pedro Pomar

Mais um funeral de um jornalista palestino ocorreu em 5 de mar- ço, desta vez na região central da Faixa de Gaza. Muhammad Salama, âncora do canal de TV palestino Al Aqsa, e toda a sua família foram assas- sinados quando aviões de guerra israelen- ses atacaram sua casa, na cidade de Deir al-Balah. Menos de duas semanas antes, nessa mesma região, foram assassinados dois outros jornalistas: Mohammad Yaghi e Musab Abu Zaid.

Tais mortes não são acidentais. O regime sionista de Tel Aviv considera jornalistas e outros profissionais de mídia como inimigos – e usa seus sofisticados equipamentos bélicos para localizar e eliminar esses alvos. Já vinha fazendo isso na história recente da colonização da Palestina, como atesta o impune assassinato da conhecida jornalista Shireen Abu Akleh, da TV Al Jazeera, em maio de 2022 na Cisjordânia.

O genocídio em Gaza, porém, revelou ao mundo que a liderança sionista op- tou pelo terrorismo aberto contra jornalistas. Os números variam conforme a fonte, mas não resta dúvida de que Israel promoveu e continua cometendo um assassinato em massa de jornalistas, mesmo depois que o Tribunal de Haia, julgando o processo aberto pela África do Sul, determinou em 26 de janeiro ao país suspender as ações bélicas contra civis.

“Pelo menos 98 jornalistas e trabalha- dores da mídia palestinos foram mortos, vários ficaram feridos e outros estão desaparecidos durante a guerra em Gaza. A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e o Sindicato dos Jornalistas Palestinos (PJS) condenam os assassinatos e os ataques contínuos a jornalistas”, declarou em 3 de março a FIJ, que exige “uma in- vestigação imediata sobre suas mortes”. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo é filiado à Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), que por sua vez é filiada à FIJ.

© AHMAD ALZOUBI. O jornalista Wael al-Dahdouh perdeu a esposa, os filhos e um neto em ataque de Israel. Ferido, hoje se encontra em Doha, sob cuidados médicos
© AHMAD ALZOUBI. O jornalista Wael al-Dahdouh perdeu a esposa, os filhos e um neto em ataque de Israel. Ferido, hoje se encontra em Doha, sob cuidados médicos

O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), respeitada entidade sediada em Nova York, fornece números próximos. “Em 6 de março de 2024, as investigações preliminares do CPJ mostraram que pelo menos 95 jornalistas e trabalhadores da mídia estavam entre os mais de 30 mil mortos desde o início da guerra, em 7 de outubro”, relata seu site. Entre as mortes confirmadas, 90 são palestinos e palestinas, dois são israelenses e três libaneses (uma mulher entre eles). Além disso, “16 jornalistas ficaram feridos”, outros quatro “foram dados como desaparecidos” e 25 “foram presos”.

Por sua vez, o Gabinete de Comunicação Social de Gaza, órgão pertencente ao governo local, já estima em 133 o número de jornalistas assassinados por Israel desde 7 de outubro de 2023.

O CPJ divulgou um extenso e detalhado relatório sobre as agressões sofridas pelos jornalistas palestinos por parte de Israel desde outubro passado. Ele merece ser conhecido, para que se tenha uma noção mais nítida da violência contra nossos colegas palestinos e palestinas. Um dado importante: pelo menos 14 jornalistas mulheres foram assassinadas por Israel. Pelo menos duas perderam a vida depois do veredito de Haia.

Vejamos o que diz o relatório sobre Mohammad Yaghi, que citamos no início desta matéria: “Yaghi, fotojornalista freelancer de 30 anos que trabalhava com vários meios de comunicação, incluindo a Al-Jazeera, foi morto em um ataque aé- reo israelense […] junto com 36 membros da família, incluindo sua esposa e filha”.

Recuemos alguns dias, para 12 de fevereiro de 2024, quando ocorreu a morte de duas profissionais, Alaa Al-Hams e Angam Ahmad Edwan. Al-Hams, uma jornalista palestina de 35 anos, da agência local SND, “sucumbiu aos ferimentos depois de ser gravemente ferida em um ataque aéreo israelense à casa de sua família na cidade de Rafah […] que resul- tou na trágica perda de dez membros de sua família em 2 de dezembro de 2023”. Edwan, que trabalhava para um canal de TV líbio, “foi morta em um ataque aéreo israelense contra a sua casa em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza”.

Na véspera, Yasser Mamdouh El-Fady, jornalista de 40 anos da agência de notícias Kan’an, afiliada à Jihad Islâmica, “foi morto por um atirador [militar] israelense no hospital Nasser, em Khan Yunis”.

Em 8 de fevereiro de 2024, Nafez Abdel Jawad, diretor da estação oficial de televisão Palestina TV, foi morto junto com o filho em um ataque com mísseis israelenses à casa onde estavam hospedados, em Deir al-Balah. “Além disso, os mísseis mataram 14 pessoas, incluindo cinco crianças”, diz o relatório do CPJ, que nesse caso traz uma informação muito especial: a cínica explicação de Israel sobre essas mortes. Respondendo à emissora norte-americana CNN sobre o assassinato de Jawad, as Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram que “tomam todas as medidas operacionalmente viáveis para mitigar os danos aos civis, incluindo jornalistas”, que as IDF “nunca tiveram e nunca terão como alvo deliberado os jornalistas” e, finalmente, que “não têm conhecimento de quaisquer ataques naquelas coordenadas”.

Um dos tópicos do relatório do CPJ, de autoria de Mohamed Mandour, é denominado “Múltiplas agressões, ameaças, ataques cibernéticos, censura e assassinatos de familiares”. Ele descreve as circunstâncias de alguns casos marcantes que vale a pena citar: “Em 13 de novembro de 2023, oito familiares do fotojornalis- ta Yasser Qudih foram mortos quando a sua casa no sul de Gaza foi atingida por quatro mísseis. O incidente ocorreu cinco dias depois de uma reportagem, de 8 de novembro, do HonestReporting – grupo que monitora o que descreve como ‘preconceito ideológico’ na cobertura da mídia sobre Israel – ter acusado Qudih e três outros fotojornalistas baseados em Gaza de terem conhecimento prévio do ataque do Hamas em 7 de outubro. Os principais meios de comunicação, incluindo a Reuters, rejeitaram as ale- gações”, explica Mandour.

“O HonestReporting posteriormente retirou as acusações, mas o seu relatório levou o gabinete do primeiro-ministro de Israel a tuitar que os fotógrafos eram cúmplices de ‘crimes contra a humanidade’, e o membro do gabinete de guerra israelense, Benny Gantz, a dizer que deveriam ser tratados como terroristas. Qudih sobreviveu ao ataque”.

Outro caso mencionado por ele é mais conhecido: Wael Al Dahdouh, chefe da sucursal da Al-Jazeera em Gaza, perdeu esposa, filho, filha e neto quando um ataque aéreo israelense atingiu o campo de refugiados de Nuseirat. “Em 7 de janeiro, (ele) perdeu um quinto membro da família. Seu filho, Hamza Al Dahdouh, jornalista e cinegrafista da Al-Jazeera, foi morto com um colega, ao voltarem a Rafah, depois de filmar as consequências de um ataque aéreo, quando seu veículo foi atingido pelas IDF.”