por Pedro Pomar
PaEnquanto o cessar-fogo vigorou e ocorriam trocas de prisioneiros entre Israel e a Resistência palestina, o governo Netanyahu dava continuidade à “limpeza étnica” na Cisjordânia (onde já matou 850 civis desde outubro de 2023), expulsando moradores de suas terras e removendo à força de campos de refugiados cerca de 40 mil palestinos, avisados de que “não devem voltar”.rece infindável a tragédia que se abateu sobre o povo palestino. Submetido à mais longa ocupação da história moderna, desde a criação de Israel em 1948 e a decorrente Nakba; sacrificado em holocausto na Faixa de Gaza, por covardes, devastadores bombardeios que resultaram, entre 7 de outubro de 2023 e 19 de janeiro de 2025, em mais de 48 mil vítimas fatais e 111 mil pessoas feridas; e em plena vigência do acordo de cessar-fogo mediado por Qatar, Egito e EUA, obrigado a enfrentar novamente a fome e outros sofrimentos.
Como forma de pressionar a Resistência palestina, desde 2 de março último Israel havia voltado a bloquear a entrada de alimentos, remédios e equipamentos médicos na Faixa de Gaza, e cortado a eletricidade. “Isto não é um cessar-fogo, é uma desaceleração da violência militar. É a continuação da matança pela fome”, definiu Michael Fakhri, relator especial da ONU para Direito à Alimentação. “Isso é genocídio, é crime contra a humanidade”.
Contudo, nada disso foi suficiente para satisfazer o ímpeto assassino e genocida de Israel e de seus dirigentes sionistas de extrema-direita, a começar pelo criminoso de guerra Benjamin Netanyahu — alvo de mandado internacional de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional — que desde o início buscou sabotar o acordo de cessar-fogo firmado com o Hamas.
Na fatídica madrugada de 18 de março, Israel rompeu o cessar-fogo e desencadeou demolidores ataques a Gaza, que mataram mais de 400 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Nas semanas anteriores, as forças armadas israelenses já vinham executando dezenas de palestinos em ataques pontuais.
O governo Trump foi informado com antecedência das ações de Israel e declarou que os EUA as apoiavam totalmente. Dizendo de outra forma, o neofascista Trump deu aval ao rompimento do acordo de cessar-fogo que os próprios EUA mediaram. O número de vítimas fatais palestinas agora já supera 50 mil.
O genocídio e a prática sistemática de crimes de guerra cometidos por Israel contra palestinos, libaneses e outros povos só são possíveis, na apavorante escala que assumiram, graças à total cumplicidade dos EUA e dos principais países da União Europeia. O governo Trump aprovou novo pacote de ajuda militar a Israel, no valor de bilhões de dólares. Além disso, atacou o Iêmen, como forma de retaliação às ações militares dos houthis contra navios israelenses no Mar Vermelho, e ameaçava bombardear o Irã.
A conivência de países europeus com o regime sionista e colonialista de Tel Aviv está vinculada a interesses geopolíticos e econômicos. A Alemanha, por exemplo, é o segundo maior vendedor de armamentos para Israel, logo atrás dos EUA. Assim, a polícia de Berlim faz questão de reprimir as frequentes manifestações de solidariedade aos palestinos com uma ferocidade digna dos nazistas.
De qualquer modo, sucedem-se diariamente, na Europa e em diversas regiões do mundo, inclusive em Israel, inúmeras marchas e manifestações em defesa da Palestina, em favor do cessar-fogo e do fim do genocídio. Até mesmo na pequena Tromsø, cidade norueguesa situada no Círculo Polar Ártico, manifestantes saíram às ruas em fevereiro, sob nevasca e frio glacial, para protestar contra Israel.
NA MADRUGADA DE 18 DE
MARÇO ISRAEL ROMPEU
O CESSAR-FOGO E VOLTOU
A BOMBARDEAR GAZA,
MATANDO CENTENAS
DE PALESTINOS. DESDE
OUTUBRO DE 2023, MAIS DE
160 JORNALISTAS FORAM
ASSASSINADOS

O grupo “Vozes Judaicas pela Paz” ocupou a Trump Tower, em Nova Iorque, para exigir a libertação imediata de Mahmoud Khalil, ativista palestino que se destacou durante os protestos estudantis realizados em 2024. Trump mandou o departamento de imigração (ICE) prender Khalil, portador de green card, recém-formado pela Escola de Assuntos Internacionais e Públicos da Universidade de Columbia, com a intenção de deportá-lo. Preso em Nova Iorque na presença da esposa, cidadã norte-americana grávida de oito meses, Khalil foi despachado secretamente para um centro de detenção na Louisiana. Um juiz federal barrou momentaneamente sua deportação.
Além de apoiar a expansão colonial israelense na Cisjordânia, Trump insiste em levar adiante seu próprio plano, megalomaníaco e perverso, de limpeza étnica de Gaza, com a finalidade de transformá-la numa suposta “Riviera do Oriente Médio”.
Para tanto, os cerca de 2 milhões de habitantes de Gaza seriam impelidos a sair de lá. Mas os países árabes “convidados” por Trump a receber e assentar essa população recusaram a oferta, levando o presidente neofascista a procurar outros “interessados”. Assim, EUA e Israel entraram em contato com autoridades da Somália, Somalilândia e Sudão, países do leste da África, “para discutir o uso de seus territórios para reassentar moradores de Gaza”.
Tais desdobramentos quase surreais do drama palestino, frente à opressão exercida por Israel com respaldo dos EUA, demonstram a que ponto de absoluta desumanização é capaz de chegar o capitalismo, mais ainda na fase neoliberal e neofascista.
Como agravante, no dia 24 de março noticiou-se a morte de Walid Khaled Abdullah Ahmed, cidadão brasileiro-palestino de 17 anos, morador da Cisjordânia, sequestrado pelo Exército de Israel em setembro de 2024 e desde então encarcerado na prisão militar de Megiddo. As circunstâncias de sua morte sob custódia ainda não foram esclarecidas. O governo brasileiro protestou timidamente.
Vale lembrar ainda que entre 7 de outubro de 2023 e 24 de março de 2025 a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) documentou o assassinato por Israel de pelo menos 154 jornalistas e trabalhadores de mídia palestinos, de nove jornalistas libaneses e de uma jornalista síria. A título de comparação, nesse período perderam a vida quatro jornalistas israelenses, presumivelmente mortos pelo Hamas em 7 de outubro.
Não há neutralidade possível frente ao genocídio e às covardes agressões sofridas pelo povo palestino. “Palestina livre, do rio ao mar!”. Viva a Resistência palestina! Basta de genocídio, de opressão e de hipocrisia da mídia hegemônica. •