Fotojornalismo: Lilo Clareto (1960-2021)

Lilar: uma crônica fotográfica

Texto: Alan Rodrigues

Maurílo Clareto é nome e sobrenome. Lilo é apelido. Lilar é verbo. Uma palavra pode ser definida como sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente com a ideia associada a esse conjunto. A função da palavra é representar partes do pensamento humano, e por isso ela constitui uma unidade da linguagem humana, segundo a Wikipédia. Eliane Brum, jornalista e escritora, com muita competência na arte de arrumar e desarrumar palavras, cunhou a palavra “lilar” em homenagem ao Lilo, que faleceu de covid em abril deste ano. Em um hipotético dicionário de neologismo da língua portuguesa do Brasil, “lilo” pode ser adjetivo, substantivo e verbo. Assim:

Lilar (v.t.d. e t.d.i. e pron.)

1. Ato ou efeito de fazer lilagem. 2. Enxergar a vida de maneira singular, como se fosse uma crônica fotográfica. 3. Permitir-se, sem medo do que há por vir; agir de forma espontânea, criativa e alegre. 4. Quebrar regras, criar de forma única e original.

Lilo era conhecido e reconhecido no jornalismo por trabalhos fotográficos que denunciavam violações de direitos humanos e crimes ambientais na região amazônica. Teve passagens pela revista Época e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Com sua partida, o coletivo “Fotógrafos pela Democracia” deixou registrado: “Nossos corações partidos agradecem sua atuação combatente, sempre crítica, de denúncia, de amor, de poesia. Suas fotos irão pulsar por ele, que não mais respira, agora voa!”.

Da esquerda para a direita, de cima para baixo:

Beijo: Um talho no tronco de uma árvore tornou-se a foto Beijo, realizada em 2019. A imagem é capa do livro Banzeiro Òkòtó: Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum, recém-lançado pela Companhia das Letras

Belo Monte: Menino no rio (2017), Passarinho (2015) e Belo Monte (2017) marcam o período em que comunidades ribeirinhas e indígenas foram desterritorializadas para a construção da hidrelétrica. Menino no rio (sup. dir.), imagem singela de uma criança brincando no Paratizão, uma das ilhas que abrigavam sua comunidades antes do alagamento. Passarinho (Sup. dir) mostra a brincadeira de Alice Juruna (os jurunas são chamados de reis do rio) e Belo Monte (meio esq.), retrata a área alagada pela hidrelétrica.

Arte no asfalto: Nos anos de 2016 e 2017, entre um trabalho e outro, Lilo lançou-se a leituras do cotidiano de São Paulo com o aplicativo Instagram e fez incursões no campo da arte, desenvolvendo a série de fotos Arte no asfalto, capturando imagens de objetos ou sinais que marcam o dia a dia da cidade