Fotojornalismo: Adriana Zehbrauskas

Reportagens que salvam destinos
Texto: Adriana Franco

Ao vencer o Maria Moors Cabot 2021 – uma das condecorações jornalísticas internacionais mais antigas –, a já premiada fotojornalista Adriana Zehbrauskas revelou-se surpresa. Surpresa e honrada, especialmente por ser uma premiação jornalística. “Mas [o prêmio] também chega com muita responsabilidade — o trabalho não termina aí. Sinto que agora, mais do que nunca, é preciso seguir trabalhando com ainda mais dedicação e ética para estar à altura dessa honra”, disse ao Unidade.

Adriana procura histórias que possam revelar a realidade. Do recente terremoto que novamente assolou o Haiti ao desaparecimento de meninas e mulheres indígenas nos Estados Unidos; da travessia dos imigrantes hondurenhos pelo México na tentativa de chegar aos Estados Unidos aos registros familiares em comunidades violentadas e ameaçadas de extinção no México e na Colômbia, as reportagens fotográficas da jornalista extrapolam em humanidade e aproximam o leitor dos personagens de cada uma das histórias.

Parte destes ensaios você confere nas fotos impressas desta edição. Adriana toca o projeto Family Matters, no qual registra famílias e pessoas como forma de salvar seus destinos do esquecimento. Ela revelou que, embora a fotografia impressa tenha sido sempre presente e importante em sua existência, atualmente não imprime uma quantidade de fotos suficiente em sua vida pessoal, mesmo que a fotografia digital tenha proporcionado a facilidade em olhar e registrar os momentos diários da vida. Apesar disso, são as reportagens de Adriana Zehbrauskas que salvam destinos.

Da esquerda para a direita, de cima para baixo:

  • Les Cayes, Haiti, 14 de agosto de 2021: pessoas esperam na fila, por distribuição de água. O terremoto de magnitude 7,2 que atingiu o sul do país, matando 2.200 pessoas, ocorreu em uma nação já em crise, com poucos representantes legitimamente eleitos e uma administração interina paralisada e impopular
  • Phoenix, Arizona, 6 de janeiro de 2021: Aya Iannon (à esquerda) e Ashley mostram suas armas em um comício para protestar contra os resultados das eleições e mostrar apoio ao presidente Donald Trump no Capitólio do Arizona
  • Pijijiapan, estado de Chiapas, México, 25 de outubro de 2018: membros da caravana de migrantes que deixou Honduras em meados de outubro amontoam-se na carroceria de um caminhão ao deixar a cidade, situada no sul do México, em direção à próxima parada
  • El Progreso, Honduras, 1º de julho de 2016: Gabriela Liseth, 13 anos. Enquanto viajava com o pai e os irmãos pelo México para tentar cruzar a fronteira e se juntar à mãe, que vive nos EUA, eles foram sequestrados pelos Zetas e mantidos reféns por 42 dias
  • San Pedro Sula, Honduras, 8 de junho de 2017: membros de uma gangue local se reúnem em seu esconderijo. Inimigos das gangues Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18, sua principal atividade é proteger a vizinhança enquanto traficam drogas em pequena escala e trabalham como assassinos
  • Cidade do México, México, 8 de novembro de 2017: Patricia Robles Orozco (Paty), 68, segura uma foto sua aos 18 anos em seu quarto na Casa Xochiquetzal. Paty era uma vedete, uma estrela de cabaré
  • Gallup, Novo México, 13 de dezembro de 2019: Prudence e sua filha Ashley tentam acordar a primogênita, Dani, por quem a família procurou durante dois anos. Milhares de mulheres e meninas indígenas americanas desaparecem todos os anos

NESSAS FOTOS DIZEMOS: ESTES SOMOS NÓS. UMA PESSOA FOTOGRAFADA ALCANÇOU UM MOMENTO DE REDENÇÃO, SALVA DO DESTINO DE SER ESQUECIDA PARA SEMPRE

Huehuetonoc, Guerrero, México. Family Matters é um projeto que nasceu enquanto Adriana trabalhava com as famílias dos 43 alunos da escola rural de professores de Ayotzinapa que desapareceram em setembro de 2014 em Iguala, no sul do México. Nenhum deles tinha fotos de família – tudo o que tinham eram fotos tiradas em seus telefones celulares que foram perdidas ou apagadas acidentalmente. Ninguém imprimiu mais fotos. A essas pessoas não foi negado apenas um futuro com seus entes queridos, mas também um passado – com as fotos perdidas, suas memórias eventualmente desapareceriam.

E quem somos nós, sem nossas memórias? É um paradoxo que, nos dias de hoje, a quantidade de imagens produzidas seja maior do que nunca e, no entanto, ninguém as guarda mais.