Querida leitora, querido leitor, devemos um pedido de desculpas, antes de começar a nossa conversa. Afinal, como jornalistas que somos, sabemos que uma das piores coisas da profissão é atrasar a entrega do jornal para a gráfica. Mas, representando bem a categoria, estendemos até o limite (e um pouquinho além da conta) os prazos para a finalização das reportagens — e, principalmente, deste Editorial. O resultado é que esta edição chega às suas mãos com algumas semanas de atraso.
Olhando o copo meio cheio, a extensão do deadline permitiu compartilhar informações quentinhas a respeito de uma das principais atividades que o Sindicato organizará no segundo semestre: entre os dias 4, 5 e 6 de agosto haverá o 16º Congresso Estadual dos Jornalistas de São Paulo, que dará centralidade às discussões sobre o papel da nossa profissão a partir das novas tecnologias e relações de trabalho.
Com o tema central Jornalistas e o Futuro: Trabalho, Saúde Mental e Organização Sindical nas Novas Plataformas de Comunicação, o Congresso ocorrerá de maneira presencial na sede do Sindicato e terá delegadas e delegados eleitos a partir de reuniões preparatórias e de atividades realizadas nos diferentes locais de trabalho da categoria.
Oito encontros temáticos foram preparados pelo Sindicato para ajudar na discussão das questões que serão debatidas no Congresso, além de uma tese-guia que resume as linhas gerais de atuação da nossa entidade para continuar seu trabalho de organizar a categoria. Durante as semanas de preparação, as e os jornalistas tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões sobre a atual conjuntura vivida por nossa profissão, que é marcada pela crise estrutural das empresas tradicionais de comunicação e pela ascensão dos conglomerados internacionais de tecnologia. Constituindo-se como um verdadeiro oligopólio, as donas das plataformas em que o conteúdo é consumido também são responsáveis por se apossar das verbas publicitárias até então destinadas aos veículos de imprensa.
“São as trabalhadoras e os trabalhadores os mais afetados por essa crise, com o avanço das demissões, o aumento da exploração (tanto pelo acúmulo de funções quanto pelo aumento da carga de trabalho), a precarização das condições para desenvolver o trabalho jornalístico, o rebaixamento dos salários, a falta de perspectiva de construir uma carreira e o adoecimento físico e mental. Em consequência, é seriamente prejudicada por essas medidas a própria atividade jornalística, atingindo-se assim o direito social à informação”, diz um dos trechos do texto-base apresentado pela diretoria do nosso Sindicato.
Apesar desse cenário nada fácil, uma coisa que podemos ter certeza é de que o trabalho jornalístico permanece uma atividade essencial para a livre circulação de informações e a construção de uma sociedade democrática (como ficou comprovado recentemente com as coberturas da pandemia e das eleições de 2022). A outra constatação é que a existência de um Sindicato para organizar nossa categoria segue fundamental, discutindo coletivamente as questões que afetam a nossa profissão e encontrando soluções conjuntas para resistir e avançar na valorização de nosso trabalho.
É por tudo isso que estamos depositando energia e esperança na preparação deste 16º Congresso Estadual dos Jornalistas, com a certeza de que este será um momento rico de partilha e de muita luta para reafirmar aquilo que se tornou o lema de nossa gestão: o Sindicato somos nós e é o esforço coletivo de nossa categoria que ajuda a construir esta entidade.
Por falar nisso, nunca é demais relembrar: vamos somar esforços em nossa campanha permanente de sindicalização! É necessário explicar, sobretudo para as e os jornalistas mais jovens, a importância política e material de sustentar a sua entidade a partir do ato de se sindicalizar. Afinal, é isso que garantirá as condições de luta para o presente e, principalmente, a continuidade de nosso Sindicato para o futuro.
Notícias do front
Enquanto nos preparamos para construir o plano que ajudará a guiar as ações de nossa entidade com as resoluções tomadas no Congresso, nos defrontamos com aqueles problemas que insistem em se repetir periodicamente: desde o primeiro semestre de 2023, as grandes emissoras do estado estão praticando demissões de dezenas de profissionais.
A primeira a abrir a porteira dos passaralhos foi a Rede Globo, que a partir do mês de abril destruiu empregos em todas as suas praças (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Pernambuco). Graças a uma ação conjunta das entidades sindicais de jornalistas e radialistas desses diferentes estados, realizamos manifestações e plenárias com a categoria: como resposta, a empresa apresentou um tímido “pacote de desligamento”, com a extensão do plano de saúde e o apoio à “recolocação profissional”. O que, convenhamos, é completamente insuficiente diante da realidade, ainda mais ao levar em conta que os demitidos eram, em sua maioria, profissionais com décadas de experiência.
Em seguida, a TV Bandeirantes e a TV Record também realizaram demissões no setor de jornalismo, atingindo sucursais em diferentes regiões do estado. Para piorar, a Record se recusa a estabelecer contato com o Sindicato: nos últimos meses, diante de ofícios com assuntos variados, a atitude da empresa foi o solene silêncio.
Como podem notar, a vida não anda muito fácil para quem é jornalista. Mas, como diria o poeta, se não estamos alegres, por que razões haveríamos de ficar tristes? Como conta a nossa reportagem de capa, jornalistas das grandes empresas estão ampliando sua mobilização e organização para resistir coletivamente, contra o assédio, a precarização e as demissões. É hora de juntar as forças, preparar as nossas ferramentas de mobilização e manter firme a bandeira de lutas por salários, direitos e dignidade.
• Direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo