DESIGUALDADE SALARIAL E VIOLÊNCIA DE GÊNERO MARCAM ATUAÇÃO DAS JORNALISTAS

por Comissão de Mulheres da Fenaj

A realidade das trabalhadoras da imprensa na América Latina e no Caribe ainda é marcada por desigualdade salarial, acúmulo de funções e violência de gênero. Esses são alguns dos principais desafios apontados por uma pesquisa realizada pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), com o apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2023, que ouviu profissionais do setor para entender a situação das mulheres no jornalismo na região.

Os dados revelam que muitas mulheres jornalistas acumulam mais de um emprego na mídia para complementar a renda, enquanto outras precisam buscar trabalho fora do setor para garantir sua subsistência. Além disso, uma questão recorrente é a disparidade salarial: muitas profissionais relataram ter colegas homens que ganham mais pelo mesmo trabalho, evidenciando uma desigualdade de gênero ainda presente no setor.

No Brasil, 62% das jornalistas afirmaram que precisam de mais de um emprego para garantir a renda necessária. Além disso, 48% relataram que possuem colegas homens que recebem salários superiores, mesmo exercendo funções equivalentes.

Auditório Vladimir Herzog no 1º Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas,
promovido pela FENAJ em novembro de 2024. © JULIANA ALMEIDA
Auditório Vladimir Herzog no 1º Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas, promovido pela FENAJ em novembro de 2024. © JULIANA ALMEIDA

NO BRASIL, 62% DAS JORNALISTAS AFIRMARAM PRECISAR DE MAIS DE UM EMPREGO PARA GARANTIR A RENDA NECESSÁRIA. ALÉM DISSO, 48% RELATARAM QUE POSSUEM COLEGAS HOMENS COM SALÁRIOS SUPERIORES

Violência de gênero no ambiente de trabalho

Outro dado alarmante da pesquisa é a violência de gênero sofrida por essas profissionais. Muitas mulheres afirmaram já ter sido vítimas de assédio ou discriminação por parte de chefes e colegas do sexo masculino. Além disso, muitas relataram que tiveram seu trabalho questionado de maneira diferente em relação aos homens, o que reforça a cultura de desvalorização do trabalho feminino no jornalismo.

No Brasil, 65% das jornalistas entrevistadas afirmaram ter sofrido violência de gênero no ambiente de trabalho, seja por meio de assédio moral ou sexual. Além disso, 53% sentiram que seu trabalho foi questionado de maneira diferente da dos colegas homens.

A violência também se manifesta no ambiente digital. Um número significativo de jornalistas afirmou ter sofrido ataques ou ameaças on-line relacionados ao gênero, muitas vezes como retaliação por sua atuação profissional. Essa realidade gera um ambiente hostil e pode levar ao afastamento de muitas mulheres da profissão.

Ao menos 47% das profissionais brasileiras relataram já ter sofrido ataques ou ameaças virtuais em razão do seu gênero e atuação jornalística.

Falta de protocolos e apoio institucional

A pesquisa também mostrou que, em muitas redações, não há protocolos estabelecidos para lidar com casos de violência ou discriminação de gênero. Isso demonstra a necessidade urgente de medidas institucionais para garantir ambientes mais seguros e igualitários para as jornalistas.

Apenas 22% das jornalistas brasileiras afirmaram que seus locais de trabalho possuem protocolos ou políticas específicas para lidar com violência e discriminação de gênero.

Caminho para a igualdade

Apesar dos desafios, muitas mulheres reconhecem a importância da participação em sindicatos, associações e organizações profissionais para fortalecer a luta por direitos e igualdade de gênero. Grande parte das entrevistadas acredita que é essencial que mais mulheres ocupem espaços de tomada de decisão nessas entidades, garantindo que suas pautas sejam representadas e atendidas.

No Brasil, 78% das jornalistas acreditam que é fundamental aumentar a participação feminina nos espaços de decisão de sindicatos e associações profissionais.

Para a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, os resultados da pesquisa reforçam a necessidade de políticas e ações concretas para combater a desigualdade de gênero no jornalismo. “A implementação de protocolos contra assédio e discriminação, a equiparação salarial entre homens e mulheres e o incentivo à presença feminina em cargos de liderança são algumas das medidas fundamentais para transformar a realidade das trabalhadoras da imprensa na América Latina e no Caribe”, disse.

Fenaj lança campanha pela igualdade de gênero na mídia no Dia Internacional da Mulher

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) une-se à Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) na campanha global pela promoção da igualdade de gênero na mídia, em celebração ao Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. A iniciativa reforça o compromisso com a equidade e o empoderamento feminino, destacando o tema deste ano: “Meios iguais para um futuro igual!”.

“A campanha de 2025 marca o 30º aniversário da Declaração de Pequim e da Plataforma de Ação, um documento histórico adotado na Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, em 1995. A Declaração reafirma o compromisso global com o empoderamento das mulheres, estabelecendo objetivos estratégicos em 12 áreas críticas, incluindo a mídia”, explica Samira de Castro.

Entre os principais objetivos da Declaração de Pequim estão aumentar a participação e o acesso das mulheres à expressão e à tomada de decisões na mídia, e combater os estereótipos de gênero nas reportagens.

A campanha é promovida no contexto da 69ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW), que será realizada de 10 a 21 de março de 2025, em Nova Iorque. Durante o evento, os documentos de Pequim serão revisados.

Para Samira de Castro, essa revisão torna fundamental a mobilização dos sindicatos de jornalistas para dar visibilidade aos desafios que impedem a implementação da Plataforma de Ação, promover a igualdade de gênero na mídia e o empoderamento das mulheres e influenciar a agenda global para os próximos cinco anos.