CRIME SEM PUNIÇÃO

UNIDADE INICIA PUBLICAÇÃO DE MATERIAIS HISTÓRICOS RELATIVOS AO ASSASSINATO SOB TORTURA DE VLADIMIR HERZOG, CUJO CINQUENTENÁRIO SE COMPLETA EM 2025

O jornalista Vladimir Herzog, sindicalizado número 2.582, apresentou-se espontaneamente nas dependências do DOI-Codi, órgão repressivo da ditadura militar, na manhã do sábado 25 de outubro de 1975. Os agentes tinham se apresentado na véspera em seu local de trabalho; Herzog dirigia o jornalismo na Rádio e TV Cultura. Recusando-se a sair em meio ao expediente, comprometeu-se a comparecer ao órgão no dia seguinte logo cedo.

Saiu de casa pela manhã, despedindo-se da mulher, Clarice, e dos filhos, como quem iria resolver algum problema burocrático e voltar logo. Antes do final do dia, Vladimir Herzog tinha sido assassinado, sob tortura.

Os algozes tentaram simular um suicídio, apostando no terror para silenciar as vozes descrentes. Já no enterro, na segunda-feira 27 de outubro, no Cemitério Israelita do Butantã, a farsa ruía: Herzog recebeu cerimônias fúnebres incompatíveis com alguém que mata a si próprio. Naquela noite, o auditório lotado do nosso Sindicato recebeu o nome de Vladimir Herzog, e tornou-se, desde então, um espaço aberto para os movimentos de resistência à ditadura, para o sindicalismo combativo, para os defensores da democracia e dos direitos humanos. Assim permanece até hoje.

Para este Sindicato, o assassinato de Vladimir Herzog é um crime impune, que ainda clama por investigação, apuração e punição dos responsáveis – bem como todos os incontáveis crimes cometidos pela ditadura militar. São imprescritíveis, e tarda o desmonte dos porões e de sua doutrina de tortura e morte, espalhada pelo aparelho militar-policial brasileiro.

Neste ano que antecede o cinquentenário da morte de Vlado, o jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, trará a cada número publicações de valor histórico, recuperando aquele momento de trauma e também de muita luta na história desta entidade.

Nesta edição, publicamos em fac-símile a corajosa reportagem do jornal EX-, único órgão de imprensa a noticiar em profundidade o crime do regime então vigente. Pagou a ousadia com a própria existência: foi o último número da publicação. Ao escolher publicar o fac-símile, pelo valor histórico, já nos desculpamos de antemão com o leitor que vai experimentar alguma dificuldade de leitura do texto.

Publicamos também a primeira parte de um texto de Sérgio Kalili, jornalista da RedeTV e diretor do Sindicato, filho de Narciso Kalili, um dos autores da matéria do EX-. Sérgio se incumbiu da matéria que reporta quem foram os jornalistas que enfrentaram o regime para noticiar o brutal assassinato. Pelo seu tamanho, decidimos dividir a matéria em duas partes, publicando aqui a primeira. Boa leitura!