por Juca Kfouri
Se eu estiver certo sobre como pensa a maioria dos que leem este Unidade, não terei dúvida em dizer que tem causado imensa satisfação a cobertura dada pelo Jornal Nacional às estripulias financeiras de Bolsonaro&cia, melhor dizendo, Bolsonaro$milícia.
Confesso também estar me divertindo, embora deplore quão tardia a torrente de informações sobre delitos conhecidos desde antes da campanha eleitoral.
Como, então, o foco era outro, deixou-se pra lá.
Imaginava-se a possibilidade de controlar o miliciano quando assumisse o poder, embora, diga-se a favor dele, em momento algum tenha deixado dúvida sobre suas intenções contra os grupos Globo e Folha.
QUEM ESTIVER PREOCUPADO EM FAZER BOM JORNALISMO, TEM O DEVER DA IMPARCIALIDADE, QUE NÃO SE CONFUNDE COM A IMPOSSÍVEL NEUTRALIDADE
O resto da história é conhecido.
Apesar do apoio às ideias neoliberais do raso ministro da Economia, as extravagâncias da famiglia Bolsonaro passaram dos limites e não houve outro caminho.
Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas, lembremos, quando se tratou do impeachment de Dilma Rousseff, e da condenação do ex-presidente Lula, o tratamento dado foi semelhante e, imagino, mal recebido pelos leitores de nosso combativo periódico.
Por que, então, hoje, aplaudi-lo?
Alguém poderá dizer, não sem razão, que aplaude pelo simples fato de, agora, ser tudo verdade.
É fato!
Mas será possível dizer que vemos cobertura equilibrada?
Vamos deixar claro: nem mesmo um jornal sindical pode defender o trabalhador quando este estiver errado.
Jornais partidários têm por que cobrir os fatos segundo suas visões de mundo e são consumidos por seus filiados ou simpatizantes.
Quem, no entanto, estiver preocupado em fazer bom jornalismo, tem o dever da imparcialidade, que não se confunde com a impossível neutralidade.
Notícia é uma coisa, diria o Conselheiro Acácio, opinião é outra.
Na deste pobre colunista, já passou da hora do impeachment do miliciano, tantos crimes de responsabilidade cometeu.
Nem por isso vou escrever ser ele tricolor quando é notório alviverde.
Bem sei que, diante das ameaças à democracia, bater neste governo é obrigação, desde que não pareça perseguição.
De outro lado, há quem defenda a MP do futebol porque contra a Globo.
Mas saiba que se trata de um monstrengo sem justificativa, ainda mais em tempos de pandemia.