por Juca Kfouri
Se há uma coisa que jornalista não pode fazer é brigar com os fatos.
Negar a circunferência da Terra, a gravidade da pandemia, a inutilidade da cloroquina, a eficácia do isolamento social, a derrota do bolsonarismo nas eleições municipais, a do PT, ou a desmoralização definitiva do ex-juiz curitibano, e ex-ministro da Justiça, que além de ter feito tudo o que fez acabou indo ganhar fortuna na recuperação da Odebrecht.
São fatos, constatações que independem da opinião do observador.
O Palmeiras é alviverde e não tem Mundial. O Corinthians é alvinegro e tem dois. Também ninguém pode negar.
Mas negam. E como negam. Negam a tal ponto que emporcalham carreiras um dia de brilho, hoje reveladoras de apreço algum pelas próprias biografias, apenas pela sobrevivência.
A derrota de Donald Trump, por exemplo, ao que tudo indica, jamais será reconhecida por uma certa senhora que jogava vôlei com competência e virou a rainha das bolas fora nos meios de comunicação.
Ana de Amsterdam teve final muito mais glorioso.
É claro que cada um faz o que quer de sua vida, mas quando se trata de jornalismo não é bem assim. Porque as fake news proliferam não apenas pelas redes antissociais, mas pelas ondas, imagens e impressos.
Tem quem ouça, veja, leia, pois se não tivesse não haveria mais um certo tipo de falsários capazes de dar espaço a astrólogo como se fosse filósofo, ou para charlatães no papel de médicos sérios.
Uma outra maneira de brigar com os fatos, e fazer mau jornalismo, é ser seletivo na indignação traduzida em espaços em cada veículo.
Vimos em passado recente o estelionato eleitoral cometido pelo reeleito governo federal petista ser tratado como tal, embora até fosse a favor da banca.
Pois acabamos de assistir a outro estelionato nas esferas estadual e municipal reduzido a mero registro no dia seguinte ao segundo turno da eleição para a Prefeitura paulistana.
Testemunhamos o que governador e prefeito negavam no sábado, a necessidade de novo aperto no combate à pandemia, virar verdade na segunda-feira.
Temos muito a caminhar e devemos reconhecer que os controles éticos do exercício do jornalismo andam capengas não é de hoje.
Basta ver quantos “jornalistas” são garotos-propaganda.