por Juca Kfouri
Antes de mais nada, a resposta é sim: a Empresa Brasil de Comunicação pode ser a British Broadcasting Corporation.
Mais: pode e deve.
Se os britânicos conseguiram fazer da BBC uma empresa de enorme credibilidade e influência, por que nós, brasileiros, não conseguiríamos?
Há diferenças, é claro.
A BBC completou um século em outubro do ano passado e a EBC completou 25 anos em 2022.
É preciso ser muito sério e confiar no próprio taco para financiar um veículo que, por independente, dê notícias desagradáveis para o próprio financiador. Mas é necessário.
O país precisa de TV, rádio e agência de notícias realmente públicas e que não surfem conforme o governo de plantão.
Como tais veículos não podem estar sujeitos aos humores de governantes que abram ou fechem as torneiras a seu bel-prazer.
Até hoje a sociedade brasileira desconhece o que seja, de fato, uma TV pública. A TV Cultura já mostrou ser possível, mas sofre historicamente com altos e baixos.
A TVE da Bahia há anos vive bela experiência. E o que garante a existência e permanência de uma TV verdadeiramente pública?
A credibilidade e a competência dos jornalistas que nela trabalhem, que iluminem os fatos, assim como a existência de comentaristas das mais diversas correntes.
Fosse uma EPC, Empresa Paulista de Comunicação, onde seriam possíveis debates entre comentaristas corintianos, palmeirenses, santistas e são-paulinos, desde que de acordo sobre a redondeza da bola e sobre a necessidade de vacinar todos os jogadores.
É claro que uma TV pública não pode ser lugar para negacionistas, pregadores fascistoides, e deve ser laica. É difícil? Se não fosse, já a teríamos.
Mas estamos diante de nova chance para plantá-la com raízes fortes e iluministas. Trata-se de utopia? Talvez, mas é como disse o cineasta argentino Fernando Birri, sempre citado pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano:
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Caminhemos, pois. Assim se faz o caminho, não é?