por Daniela Sanches Tavares e Maria Maeno
A violência é um fenômeno de natureza biopsicossocial, sendo o convívio em sociedade o ambiente no qual ela é gestada e se desenvolve. É nesse contexto que as violências no ambiente de trabalho devem ser interpretadas: como expressões das dinâmicas das relações laborais, exigindo uma análise sob uma perspectiva histórico-cultural. Entre essas manifestações, destaca-se o assédio moral como uma forma específica de violência.
Relatos de práticas de assédio moral surgem em diversos setores econômicos e envolvem trabalhadores de diferentes níveis hierárquicos. Estudos indicam que o sentimento de desvalorização e humilhação não se restringe aos indivíduos situados na base da pirâmide organizacional. Muitas vezes, até mesmo aqueles em posições de liderança — que eventualmente são apontados como assediadores — compartilham desses mesmos sentimentos. Suas características individuais são frequentemente aproveitadas por empregadores para extrair o máximo de produtividade com o menor custo possível, estimulando comportamentos individualistas em busca de reconhecimento ou ascensão — que, frequentemente, nunca chegam.
Assim, comportamentos interpretados como sendo decorrentes dos indivíduos são na verdade fruto de uma politica organizacional que se configura como uma forma de gestão. Mais do que legitimada ou tolerada, é concebida como método de obter produtividade, estimular a competitividade e o individualismo, esgarçar a rede de solidariedade.
No cenário contemporâneo da comunicação, marcado pela hegemonia das plataformas digitais e redes sociais, observa-se uma equalização problemática entre informações produzidas por profissionais com conhecimento técnico e ético comprovado — como os jornalistas — e conteúdos gerados por influenciadores ou criadores sem compromisso com os mesmos princípios. Essa lógica, que ignora critérios transparentes de distribuição e visibilidade, transforma a informação em um produto de consumo rápido e superficial, esvaziando seu valor social e comprometendo a qualidade do debate público.
UM DOS DESAFIOS É CONFERIR DIGNIDADE À PROFISSÃO DE JORNALISTA, MARCADA POR VALORES COMO CREDIBILIDADE, PRECISÃO E HONESTIDADE
Se a dinâmica da causalidade do assédio moral não for considerada em todas as dimensões, a tendência é a de se criar protocolos de boas condutas, que tendem a não resistir à realidade posta atualmente e um dos desafios centrais é como conferir dignidade a uma profissão na qual valores como credibilidade, precisão e honestidade deveriam ser primordiais.
Nesse sentido, a regulação das plataformas pode combater práticas que prejudicam a profissão, como a disseminação de notícias falsas, a manipulação de algoritmos e a exploração de conteúdo sem compensação justa. E ainda, as antigas reinvidicações de salários adequados, com direito a jornadas regulares e férias, além de outros direitos, talvez sejam caminhos de luta coletiva e urgente a serem perseguidos.
Daniela Sanches Tavares – Psicóloga, tecnologista da Fundacentro 
Maria Maeno – Médica, pesquisadora da Fundacentro
