As difíceis veredas do jornalismo

SOB A AVALANCHE DAS FAKE NEWS, DA PRESSÃO PELO CLIQUE, DA GUERRA DE NARRATIVAS, O JORNALISMO ENFRENTA UM DESAFIO DE SE MANTER ÍNTEGRO, COMO UM DOS PILARES BÁSICOS DA DEMOCRACIA MODERNA

por Decio Trujilo

Em plena terça-feira de Carnaval, a repórter Renata Cafardo e o fotógrafo Tiago Queiroz foram agredidos verbal e fisicamente num condomínio de luxo de Maresias, em São Sebastião (SP), quando cobriam pelo jornal O Estado de S. Paulo a tragédia que provocou dezenas de mortes no litoral norte de São Paulo. Em dado momento, os dois e o jornal para o qual trabalham foram chamados de “comunistas”. No dia seguinte, ao narrar o episódio nas redes sociais, Renata afirmou que foi agredida pelo simples fato de ser jornalista.

O episódio resume o cenário que cerca o trabalho dos jornalistas brasileiros: polarização política acirrada, deterioração da imagem do jornalismo na opinião pública, produção industrial de fake news e sociedade desinformada. A isso se acrescem a precarização das condições de trabalho, os novos formatos e linguagens da notícia, a constante inovação tecnológica e a decadência financeira das principais empresas de comunicação.

Quais princípios?

No meio da avalanche de informações em que se transformou o mundo com a internet gratuita e as redes sociais, e a necessidade de agilidade e audiência imediata, a categoria busca respostas sobre quais são as perspectivas e desafios que se apresentam ao jornalista profissional. Um dos pontos básicos desse debate tem sido a questão ética. Jornalistas se perguntam se o novo ambiente de circulação da in- formação coloca em risco os princípios basilares do jornalismo, como imparcialidade, equidistância, independência, objetividade e transparência, entre outros.

“Sobre conceitos basilares, entendo que uma primeira providência é selecionarmos quais são aqueles que a gente vai seguir”, opina Rodrigo Ratier, professor de jornalismo da USP, colunista do UOL e integrante da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). “Imparcialidade e equidistância não me parece que sejam conceitos que possam ser aferidos cientificamente.” Afinal, a construção do texto e a edição em si já são elementos de seleção de prioridades, ainda que a apuração tenha sido equânime.

Ratier considera que a objetividade, sim, pode ser entendida com clareza. “Sem ela, não há jornalismo, porque o jornalismo se propõe socialmente a ser o relato do real, mas temos que discutir o que é objetividade em tempos de fake news e polarização.” Para ele, a objetividade nasce da proximidade do jornalismo com o método científico, de investigação e confirmação ou negação.

“Hoje é perceptível nas faculdades a busca de formação por influencers que já atuam nas redes sociais, com público fiel e grande número de seguidores”, conta Cláudia Bredarioli, jornalista, dou- tora em comunicação pela ECA-USP e professora do curso de Jornalismo da ESPM-SP. Segundo ela, esses jovens têm clareza sobre a importância de ter credibilidade e querem aprender desde técnicas jornalísticas, como apuração, linguagem e checagem, por exemplo, até os princípios que norteiam o bom jornalismo. “Pode soar otimista, mas eu vejo que o jornalismo está dando a volta por cima no meio de tantas fake news e de tanta gente publicando nas redes sociais.” Os grandes conceitos do jornalismo, no entanto, exigiram tempo e maturidade de veículos e do próprio público para chegar à forma atual, por isso não são definitivos e estão sempre sendo atualizados, explica Eugênio Bucci, que é professor universitário, tem livros publicados sobre a prática jornalística e, ao longo da carreira, atuou em redações e trabalhou em órgãos de governo. “Os princípios da boa prática jornalística como conhecemos hoje começaram a tomar forma no fim do século 19 e foram aperfeiçoados ao longo do tempo”, afirma. “Foi a exigência cada vez maior do público que levou a imprensa a se aperfeiçoar e isso vai acontecer novamente.”

Polêmica sobre narrativas.

No entanto, a universalização da circulação da informação e a polarização política abalaram esta estrutura. Aos poucos, grande parte do público deixa de acreditar nas marcas e nomes e passa a priorizar não mais o conteúdo que informa e em que ele sempre confiou, mas aquilo que confirma suas crenças. Um primeiro efeito desse processo é a discussão em torno das narrativas, ou das possíveis formas de contar um fato.

“Essa é uma discussão estéril, já que não há nada sem narrativa”, afirma Eugênio Bucci. “Basta que haja rigor na apuração e na descrição.” No momento brasileiro atual, ele considera que a origem dessa discussão foi a difusão do discurso autoritário do governo Bolsonaro, construído para se blindar da verdade e impor suas versões distorcidas da realidade.

A jornalista Cláudia Tavares segue na mesma linha. Ela construiu sua carreira na linha de frente da reportagem e é editora do programa Repórter Eco, da TV Cultura. Para Cláudia, no mundo polarizado, no qual “as democracias morrem”, deve haver limites, por exemplo, para a escuta dos dois lados. “Se um lado é autoritário ou até fascista e suas ações resultam no aviltamento dos direitos humanos, em genocídio, em esmagamento de condições de vida, temos que combatê-lo mostrando os resultados perversos de sua presença na vida pública”, diz. “Precisamos dar voz a essas figuras apenas quando é preciso confrontá-las sobre o mal que causam.”

Os críticos desse ponto de vista perguntam se é possível contar a mesma história de diferentes formas e todas serem corretas. Afinal, a notícia é a narração de um fato real investigado e comprovado. Três recentes episódios da vida nacional têm sido usados para alimentar esse de- bate. Um deles é a Operação Lava Jato, que seria o exemplo acabado de como uma narrativa viciada pode ser imposta e assimilada pela sociedade.

Outro fato é a destituição da presidenta Dilma Rousseff (PT). Recentemente, Hélio Doyle, novo presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), afirmou que, se dependesse dele, o caso seria tratado como golpe, mesmo no noticiário factual. A declaração causou reações, inclusive de articulistas da grande imprensa, que alegaram que o processo seguiu o rito legal. Na tréplica, houve quem lembrasse que Dilma não cometeu nenhum ato previsto em lei que justificasse o impeachment, mas que foi uma governante legítima que não condescendeu com práticas políticas viciadas.

Atualmente, discute-se se o descaso do governo Bolsonaro com os ianomâmis pode ser enquadrado como genocídio, com argumentos embasados de lado a lado. “Cabe ao jornalista, em casos como esses, que admitem interpretações, colocar os fatos, as visões e as leis que embasam o caso e deixar que o público tire suas conclusões”, diz Eugênio Bucci.

Desafio das fake news

O debate sobre as narrativas faz parte de uma polêmica ainda maior, a das fake news. “A circulação de mentiras na internet travestidas de notícias é intensa e veloz e ainda não temos os meios para combatê-las”, afirma Cláudia Tavares. “No YouTube, há monetização de canais que divulgam mentiras, e sabemos que as intervenções em tom mais contundente, quase de fúria, são as que conseguem mais engajamento.”

“As fake news não são um fenômeno novo; aparecem em muitos momentos da história da humanidade, desde a Roma Antiga até o nazismo”, explica Bucci. “São ações orquestradas com o intuito de produzir desinformação ou informação corrompida, com objetivos claros em benefício de um determinado grupo de poder.” Hoje, no entanto, segundo ele, transformaram-se numa indústria que usa o discurso jornalístico para convencer. “Elas minam as bases da cultura de uma sociedade democrática, mas dependem de que a sociedade esteja enredada nas redes sociais”, analisa.

As notícias falsas atingem o trabalho jornalístico de duas formas. Uma, produzindo o efeito colateral de abalar a credibilidade da imprensa, já que verdade e mentira se confundem, e a polarização tende a levar o público a desacreditar nas informações que não atendem a suas expectativas. Outra é acrescentar à atividade profissional o trabalho de checagem de informações falsas ou distorcidas. “Hoje, nós, jornalistas, nos vemos obrigados a deixar de produzir conteúdo novo para, em nome da difusão de informação correta, desmentir fake news”, diz Cláudia Tavares.

Para Ratier, o trabalho de checagem transformou-se de uma prática corriquei- ra do trabalho padrão do jornalista num procedimento à parte. “A intoxicação da notícia verificada pela informação enviesada já é uma situação estrutural, que veio para ficar”, diz ele. Por isso, considera que o jornalismo tem que se adaptar a essa realidade e, nesse contexto, a checagem de dados torna-se uma tarefa jornalística ainda mais fundamental. “As agências de checagem têm feito um trabalho incrível, mas esse conteúdo ainda não chega à grande audiência; seu alcance é pequeno, mesmo com o engajamento de cada dia mais influenciadores”, destaca Cláudia Bredarioli. “Numa sociedade polarizada, isso certamente contribui com a crescente perda de credibilidade do jornalismo.”

Com a multiplicação dos influencia- dores, criou-se a cultura da opinião e da entrevista, não focada necessariamente no interesse público, mas na ampliação e manutenção da audiência. Muitos podcasts vivem da exploração de celebridades e suas visões, não apenas de episódios da vida pessoal, mas também de comentários sobre política ou notícias do momento. Outros atuam a serviço de empresas ou grupos políticos interessados na disseminação de determinados tipos de conteúdo.

AOS POUCOS, GRANDE PARTE DO PÚBLICO DEIXA DE ACREDITAR NAS MARCAS E NOMES E PASSA A PRIORIZAR NÃO MAIS O CONTEÚDO QUE INFORMA E EM QUE ELE SEMPRE CONFIOU, MAS AQUILO QUE CONFIRMA SUAS CRENÇAS

Fato ou opinião

Nessas circunstâncias, fake news e notícias distorcidas trafegam livremente, e essas informações chegam ao público o tempo todo. A consequência é que muitas coisas ditas ao vivo e vão parar nas redes sociais são absorvidas como verdade por grande parte da audiência, o que suscita a questão sobre se o público sabe distinguir opinião de notícia.

“Uma sociedade como a brasileira, com pouca educação de base e dificuldade de interpretação de textos, visivelmente não sabe diferenciar”, diz Cláudia Tavares. Para ela, não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, as mentiras propagadas por governos extremistas, com o uso de métodos eficazes, inundam instantaneamente os celulares de pessoas dispostas a aceitar tudo com o que concordam ou que as identifique com seus líderes.

Ratier concorda que as pessoas não sabem diferenciar opinião de fato, considera que o antídoto para isso é a transparência e que cabe ao jornalismo fazer esse esclarecimento. “Temos que mostrar claramente como aquela reportagem foi feita, como as questões foram respondidas, e as que não foram respondidas também, porque o jornalismo muito raramente dá respostas finais.”

Para ele, é o momento de dar um passo atrás e, didática e humildemente, explicar o que é reportagem e o que é artigo de opinião, editorial, texto interpretativo, enfim, promover o que chama de educação midiática. “Mas sabemos que muitos veículos não têm interesse nisso, querem antes que haja essa editorialização.”

“No Brasil, uma das dificuldades para o público discernir o opinativo do factual tem a ver com o fato de as grandes empresas nunca terem deixado claro quais são seus posicionamentos, ado- tando um discurso conveniente e nem sempre verdadeiro de imparcialidade e neutralidade”, complementa Cláudia Bredarioli. Além disso, na atual crise financeira, as empresas de comunicação acabam cortando recursos de reportagem e jornalismo investigativo, bem mais custosos do que abrir espaço para textos de opinião.

A grande mídia brasileira poderia ter adotado ao longo do tempo as linhas editoriais que quisesse, desde que tornadas públicas e que as regras do jornalismo fossem obedecidas. Sua capacidade de atração de audiência e, em consequência, de recursos financeiros, seria alicerçada na credibilidade. Isso pôde ser percebido em muitos países nos quais há veículos que atendem a diferentes expectativas. Aqui, no entanto, prevaleceu um modelo único, em geral afinado com os interesses dos grupos que detêm o poder econômico, sob a falsa propaganda de que se vendia jornalismo isento.

Impacto da internet

Nas últimas décadas, a livre circulação da informação, a partir do advento da internet, pôs em xeque a estrutura tradicional do jornalismo, segundo a qual veículos de comunicação, valendo-se de profissionais habilitados, detinham o monopólio da notícia. Havia, de um lado, a audiência e, de outro, o produtor de informação conhecido e identificado.

Mas a possibilidade de distribuição de informação sem custo para o público, o acesso generalizado a qualquer informação disponível e as transformações no segmento publicitário abriram uma crise financeira no mercado de mídia que sucateou estruturas, inibiu investimentos e precarizou salários.

Como resultado, nesse início de século, o país assistiu à falência de empresas de mídia, o fechamento de jornais e a toma- da de emissoras de televisão aberta e de rádios por grupos religiosos. As redações encolheram, os gastos em produção foram cortados, atingindo diretamente a qualidade do noticiário, e os salários desabaram, afastando profissionais experientes e desestimulando o investi- mento pessoal na carreira. O processo de produção também foi atingido. “Antes, um texto passava por até quatro etapas antes de ser publicado, e isso não exis- te mais, a cobrança por qualidade recai toda sobre o autor, que, sobrecarregado, está vulnerável a cometer erros”, afirma Cláudia Bredarioli.

Ratier vê o esgotamento do modelo comercial do jornalismo, baseado em anúncios e, no caso dos jornais, na venda de assinaturas, como uma das causas do processo. “Se a gente for manter essa forma de receita, vão sobrar pouquíssimos veículos”, diz ele. “É preciso discutir a sério novas formas de financiamento da mídia, e isso passa pela taxação dos grandes conglomerados de tecnologia.”

Eugênio Bucci vai além ao afirmar que é preciso conter o poder das big techs, as “empresas mais poderosas da história do capitalismo” em sua opinião. “São companhias que não produzem nada, mas têm grande poder sobre a atividade econômica e interferem até nos rumos da política”, afirma. O desafio, segundo ele, é enorme e necessita de um grande concerto internacional. “Nenhum país, sozinho, conseguiria mover essa estrutura.”

A busca por cliques, a necessidade de multiplicação de conteúdo, a sobrecarga de trabalho, a pejotização, a pressão pela velocidade para publicar, tudo isso atinge diretamente a atuação do trabalhador. E, além de salários aviltados, o profissional enfrenta a perda de direitos, longas jornadas e descanso irregular. “Os sucessivos cortes de pessoal e o medo do desemprego minam a capacidade de concentração, e os casos de depressão se multiplicam nas redações”, relata Cláudia Tavares. Para combater a situação, ela não vê outra saída que não seja a organização coletiva. “É preciso combater a alienação em relação a nossos direitos, e apoiar as entidades que nos representam”, afirma. “O caminho é nos unirmos, sermos mais cooperativos e menos competitivos, por mais que isso soe utópico.”

A opinião é compartilhada por Ratier. “Sozinho, o jornalista pode muito pouco, e uma saída que precisa ser construída tem a ver com algum grau de coletivismo, seja uma maior atuação via sindicatos, seja pela participação em associações de classe e também pela proliferação do debate.” Para ele, a sociedade está num momento de resistência que exige ações coletivas, de denúncias e de “coragem para dar a cara para bater”.

Novos desafios

Diante das expectativas nada otimistas, o jornalista tem ainda o desafio de adaptar-se às novas linguagens. Os jovens consumidores se interessam me- nos por textos escritos, mais ainda se forem longos. As plataformas se aperfeiçoam constantemente, oferecendo novas possibilidades de comunicação entre as pessoas e entre quem produz conteúdo com seu público. Conectados o tempo todo por celulares, tablets e laptops, os novos leitores querem in- formação imediata.

O profissional de imprensa é levado a se adequar a tudo isso. A adaptação do jornalista à tecnologia, naturalmente, não é uma novidade. Cem anos atrás, quando surgiu o rádio, foi decretado o “primeiro fim da profissão”, graças à agilidade na informação e o custo zero para o público, mas o que se viu foi o surgimento de um novo modelo de comunicação que não diminuiu o papel do jornalismo impresso, mas, ao contrário, contribuiu para aperfeiçoá-lo. O mesmo aconteceu com o surgimento da televisão.

Agora, o fenômeno se repete. “Temos a tendência de imaginar o jornalismo sendo praticado nos antigos formatos, de redações estáticas, com determinados ciclos de trabalho, rotinas de publicação e textos escritos”, afirma Cláudia Bredarioli. Mas, de acordo com ela, se o novo público vive a vida e espera resultados em outro nível, os jovens jornalistas saem desse mesmo público e, logo, com as mesmas expectativas e habilidades. Eles estão acostumados com as novas velocidades e formatos.

“É claro que há uma complexidade, porque é exigido do profissional que tenha capacidade de contar e desenvolver histórias em formatos distintos. Antes, nos especializamos em um determinado modelo.” Além disso, houve uma demora para as empresas de mídia se adequarem a esses novos formatos e possibilidades. Afinal, as redes sociais são usadas como instrumentos de comunicação da população desde os tempos do Twitter.

“Vivemos uma grande transição na prática do jornalismo e temos que nos modernizar e nos adaptar às mudanças”, afirma Bucci. De acordo com ele, o texto escrito das matérias factuais e as reportagens de televisão de edição trabalhosa vão continuar existindo, mas há outros formatos e, portanto, novas oportunidades para os profissionais. “É possível fazer bom jornalismo em livros, documentários, podcasts, cinema e em todos os formatos de plataformas digitais.”

A FENAJ TRABALHA HÁ MAIS DE DOIS ANOS EM UM PROJETO DE LEI PARA TAXAR AS GRANDES PLATAFORMAS, COMO FORMA DE FINANCIAR UM FUNDO QUE POSSA FOMENTAR O JORNALISMO NO BRASIL

Defesa do jornalismo

O pano se fundo de todo esse debate é o desafio de preservar a integridade do jornalismo. É sempre importante lembrar que a própria Constituição brasileira lista o acesso pleno à informação como um ponto essencial da cidadania, e liga o exercício do jornalismo direta- mente à garantia desse direito. E mais do que um direito humano assegurado por leis, é também exigido por padrões éticos e civilizatórios.

“Uma sociedade sem informação não tem as vias adequadas para fazer as suas escolhas”, diz Ratier. “Nós, jornalistas, não podemos perder esse norte, que é lutar em defesa do interesse público e do acesso à informação, que são valo- res relacionados ao nosso fazer”, afirma Cláudia Bredarioli.

Essa luta inclui garantir os meios de subsistência da atividade. “Temos que começar a pensar o jornalismo como política pública e considerar o financiamento público da livre circulação da informação como uma demanda social”, propõe Ratier. Para ele, a discussão passa pela taxação das grandes plataformas e pelo financiamento público de empresas de comunicação.

Nessa linha, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) trabalha, há mais de dois anos, em um projeto de lei para taxar as grandes plataformas, como forma de financiar um fundo que possa fomentar o jornalismo no Brasil. Para a Fenaj, é uma forma de mitigar as consequências negativas do modelo agressivo das plataformas, que se apropriam gratuitamente do trabalho jornalístico, minando a sobrevivência econômica do próprio jornalismo.

Ratier destaca que as mudanças que aponta como necessárias não serão fáceis. “São pautas indigestas e vai ter muita gritaria, mas é preciso começar a semear esse caminho.”

Bucci vai além, evoca o controverso tema da regulação da mídia e diz que é preciso assegurar que assimetrias não prevaleçam, porque elas solapam a democracia. “O autoritarismo adoece o jornalismo, e a sociedade necessita de pluralidade de vozes.”