A pessoa naquele dia: Trombadas

Fotos Christian Carvalho Cruz
Texto: Cadu Bazilevski

Christian Carvalho Cruz tem 48 anos, é pai da Luiza e do Miguel, e filho da dona Vera e do seu Francisco. Jornalista com quase 30 anos de experiência, tem passagens pelos jornais Estadão e Folha de S.Paulo, editora Abril, pelas revistas IstoÉ Dinheiro, Placar, Quatro Rodas, Revista da Semana e pelo site pele.net. É também autor do livro Entretanto, foi assim que aconteceu, publicado em 2012.

Nascido e criado no Jaçanã, bairro da zona norte de São Paulo, Christian se dedica desde fevereiro de 2021 à coluna Trombadas, do portal UOL, espaço no qual escreve sobre pessoas comuns, com uma particularidade que é cada vez mais rara nos dias de hoje: textos longos e cheios de histórias interessantes.

Sua inspiração é sua origem, na vizinhança onde cresceu, e a figura de seu pai, que o levava para o trabalho em uma padaria quando era criança. Foi essa vivência que o levou a escrever. “Minha verdadeira inspiração é o bairro Jaçanã, em tudo o que escrevo. Sempre gostei muito de ouvir as histórias das pessoas comuns, de gente simples, que batalha e corre atrás, cada um com seus sonhos”, comenta.

Em um de seus textos, Christian afirma que o Trombadas é um projeto que nasceu do seu “desencanto com o jornalismo brasileiro” e que ele “manteve aceso o lume de um jeito seu de estar na vida, escrevendo”. “Em 2023, completo 30 anos de jornalismo. Tenho muito orgulho da trajetória que tracei. Fui ser jornalista para escrever, essa é minha primeira ligação com o jornalismo. Fui ser jornalista porque era o lugar onde eu podia ganhar a vida escrevendo, meu jeito de estar no mundo”.

Em busca de algo que o deixasse feliz, logo pensou: preciso desanuviar. Foi quando decidiu fotografar. Como gostava de frequentar o centro de São Paulo, passou a registrar seus personagens. “Escrevo do jeito que as pessoas falam para transmitir o máximo. Acredito que esta seja a maior dificuldade. A gente nunca consegue transmitir exatamente o que sente, o que a gente ouve na totalidade. É impossível, na intensidade. E com o Trombadas eu chego mais perto disso”, afirma.

“O Trombadas me satisfaz porque posso fotografar, que é uma coisa de que sempre gostei. Nunca fotografei profissionalmente. Sempre fui fotógrafo amador, no sentido literário. Como há ligação da escrita com a fotografia, estou lá para ouvir a história das pessoas e para contá-las. E isso tem a ver com a fotografia, o retrato. Já refleti bastante sobre isso: você não sabe muito da pessoa, mas ao mesmo tempo tenta revelar um pouco dela. A pessoa naquele dia e naquele instante”

“O Trombadas não é jornalismo, mas contém jornalismo. É uma abordagem diferente, e eu tenho certas liberdades que não posso tomar no jornalismo. Vai para o papel tudo o que a pessoa me conta. Como se fosse um retrato por escrito. É o que a pessoa quer me contar naquele dia, naquela hora”.