A escolha de Zanin

por Juca Kfouri

E então o presidente Lula escolheu para ser ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) o seu advogado pessoal Cristiano Zanin.

A escolha, em vez de ser vista como prova do quanto o presidente gosta do país, a ponto de abdicar de quem o defendia, apanhou de todos os lados, dos que apoiam Lula, inclusive.

Quando você vê os desprezíveis Ives Gandra Martins, Sergio Moro e Deltan Dallagnol contra, imediatamente adota a posição contrária, e não se fala mais nisso.

Mas quando você vê os respeitáveis Conrado Hübner, Ricardo Kotscho e Chico Alves contra também, se vê obrigado a refletir mais.

Parece inadequado o método de escolha dos ministros da mais alta corte nacional.

Melhor seria por eleição com regras específicas: mais de trinta anos de carreira no mundo da Justiça, doutorado em Direito Constitucional, ficha limpa, notório saber etc.

Seria, mas não é – e desde há muito impera a escolha pelo presidente da República, com a devida confirmação pelo Senado Federal.

Como deve agir quem faz a escolha?

Ouvir quem entende? Quem entende?

Ouvir os amigos? Quem são os amigos?

Apostar em alguém?

Ou indicar jurista que conheça, em quem confie, que saiba ser terrivelmente democrático, embora não necessariamente evangélico, católico, budista ou espírita com a mesma intensidade?

Ora, Cristiano Zanin tem sólida e vitoriosa carreira como advogado, é materialmente independente, revelou-se tão competente que desmontou o maior e mais infame esquema de justiçamento já visto no Brasil – e viu sua tese ser aceita no STF, a ponto de Moro ser sentenciado como suspeito e Lula ter a pena anulada.

Duvidar de sua competência, portanto, não cabe e, de fato, nem os que odeiam Lula, nem os que gostam dele, duvidam. A questão se restringe ao problema da impessoalidade, ou do republicanismo, e abriu porta às críticas. Inevitáveis.

Ele só seria poupado pela extrema direita se escolhesse algum rábula do time de Gandra. E apanharia da esquerda.

Melhor apanhar dela ao escolher Zanin, com todo respeito e sem ironia.

Até porque para nós, jornalistas, Zanin será garantia de liberdade de imprensa e de expressão.

Que a próxima pessoa escolhida por Lula para o STF seja tão defensora da cidadania como Zanin.