A CRISE DA JOVEM PAN

por Juca Kfouri

Há quem garanta estar a Jovem Pan nos estertores.

Não é notícia boa, não apenas para o mercado de trabalho, como, também, para o confronto de ideias.

A crise da emissora octogenária tem origem não por ser de direita, mas por ter propagado notícias falsas durante anos e anos. Por ter perdido credibilidade entre seus ouvintes.

A Pan sempre teve posições conservadoras, e derrapou gravemente quando adotou posições extremistas, certa de que o obscurantismo bolsonarista perduraria.

E mentiu. Burramente.

Mentiu ao dizer que Lula não podia andar pela Avenida Paulista. Mentiu ao dizer que o PT tinha acabado. Mentiu ao dizer que a vacinação na pandemia matava crianças. Mentiu quando garantiu que tanto Bolsonaro quanto Trump seriam reeleitos.

A CRISE DA EMISSORA OCTOGENÁRIA TEM ORIGEM NÃO POR SER DE DIREITA, MAS POR TER PROPAGADO NOTÍCIAS FALSAS DURANTE ANOS E ANOS.

Quando jogou ao mar os responsáveis por tanta desinformação era tarde.

A audiência despencou pelo simples motivo de se sentir enganada ao ver Lula fazer carreata pela Paulista lotada, por constatar o sucesso da vacinação, mesmo que tardia, por assistir à derrota de Trump e à vitória do PT.

Por mais que tenha mantido em sua programação apresentadores de direita, com visões retrógradas e extremadas, estes, ao menos, evitam dar notícias, no máximo as comentam, anunciam catástrofes enquanto o país tira o pé da lama, mas evitam xingar quem o povo elegeu e pregar golpe de Estado, como os antecessores desterrados que foram cantar em outra obscura freguesia.

Como era previsível para derrotados odientos, a conta chegou.

Dentro das quatro linhas, para usar a linguagem de quem a Pan elegeu como farol, com bem fundamentadas ações na Justiça.

Quando, em 2011, na Inglaterra, o tabloide News of the World, do magnata australiano Rupert Murdoch, foi fechado, exatamente por ser fábrica de mentiras e escutas ilegais, nenhum cidadão britânico, com ao menos três neurônios, viu no ato de controle social da mídia um ato arbitrário, de censura à imprensa. E olhe que o jornal tinha 168 anos e era o mais vendido da Grã-Bretanha, com tiragem de 2,8 milhões de exemplares.

Emissoras de rádio e TV são concessões públicas e, por óbvio, não podem atentar contra o interesse público, por mais que possam saciar o interesse do público por fofocas.