por Juca Kfouri
Ainda sobrevive a falsa ideia de que a imprensa é o quarto poder.
Será mesmo?
Pois, vejamos: os principais jornais dos Estados Unidos, The New York Times e The Washington Post, passaram todo o período das penúltimas eleições no país batendo na tecla do perigo que seria a vitória de Donald Trump. E ele ganhou a eleição.
Veio a perder só agora e parece que a influência dos atletas da NBA prevaleceu sobre a dos jornalões.
Já no Brasil aconteceu diferente.
Em 2018 estabeleceu-se a falsa questão entre o que seriam dois extremos e a imprensa fingiu que não via o perigo de uma vitória da barbárie, do atraso, do negacionismo, da ode à tortura, das milícias. Deu no que deu, deu, aliás, no que está dando.
A jornalista algum era lícito ignorar quem era aquele deputado abjeto —- e mesmo assim o tapete acabou estendido para que ele tomasse o Palácio do Planalto de assalto.
Digamos que sobre o justiceiro de Curitiba e seus procuradores amestrados soou mais compreensível o engano inicial, embora hoje seja inconcebível que ainda haja, nos meios de comunicação não comprometidos com o atraso, quem o alivie.
Voltemos ao tema das autocríticas.
Quem preferiu o capitão expulso do Exército ao professor da USP não se sente obrigado a pedir desculpas ao Brasil?
Porque qualquer coisa era preferível ao PT? Mas o PT ameaçou fechar o STF? O Congresso Nacional? Pregou o fim dos jornais que o criticavam? Fez apologia da tortura? Campanha contra vacinação? Desmatou a Amazônia, o Pantanal?
Alguma coisa, e não é pouca, segue fora da ordem nacional.
Bem-vindos os arrependidos como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, embora certos erros não possam ser desculpados apenas com uma declaração para seguir adiante como se o dano estivesse reparado.
Urge uma atitude séria da imprensa brasileira em busca de recuperar a credibilidade perdida entre os que não fazem parte do gado fanatizado.
Esforço que vai das pessoas jurídicas às físicas, porque, infelizmente, não foram poucos os jornalistas, “abutres”, que se lambuzaram eticamente como cada vazamento da Lava-Jato demonstra de maneira estarrecedora.
A boiada está passando, os cães estão ladrando e o silêncio dos bons é inadmissível.