Querida leitora, querido leitor do Unidade,
Nos últimos seis anos, os textos que você leu por aqui foram escritos em sua maioria pelo Paulo Zocchi, jornalista da Editora Abril com décadas de experiência e que esteve à frente de nossa entidade como presidente pelas últimas duas gestões. Caso tenha um olhar atento, deve ter percebido que os editoriais não contavam com a sua assinatura, mas eram subscritos em nome da diretoria do Sindicato dos Jornalistas. A aversão do Paulo a personalismos de qualquer tipo até ajuda a explicar essa decisão. Mas vai muito além disso: desde o início de seu primeiro mandato, em 2015, a sua preocupação e de toda a diretoria em incluir a categoria de jornalistas no dia a dia de nossa entidade se refletia nas pequenas e nas grandes ações sindicais e políticas adotadas nesses últimos anos. Se há um slogan possível para sintetizar os últimos mandatos, não teria muitas dúvidas em escrever em letras garrafais: “O Sindicato Somos Nós!”.
E foi com esse espírito de dar continuidade às últimas gestões e aprofundar o seu trabalho que assumi a tarefa de ser o presidente deste Sindicato pelos próximos três anos. Antes que eu me esqueça: meu nome é Thiago Tanji, tenho 30 anos, sou jornalista da Editora Globo e faço parte da diretoria de nossa entidade desde 2015. E já que provavelmente essa foi a primeira e a última vez que meu nome aparecerá no texto ou na assinatura de editoriais (afinal, os bons legados devem se manter), deixo um importante registro: diferentemente do brilhante colunista e membro do Conselho Editorial do Unidade que nos presenteia com seus textos ao final de cada edição, sou um orgulhoso torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Mas vamos deixar as questões futebolísticas de lado e conversar sobre o trabalho que temos pela frente. E não é preciso ser um brilhante analista de conjuntura para perceber que não são poucas as lutas e os desafios colocados diante de nós. Vivemos um dos momentos mais terríveis de nossa história, em que ser jornalista nunca foi tão difícil. Mas, também, nunca tão essencial. Foi pelo nosso trabalho que a população brasileira não ficou à mercê da perversa máquina de desinformação comandada por Jair Bolsonaro e seus cúmplices, diretamente responsáveis pela deliberada omissão no combate à pandemia, que já deixou 600 mil mortos.
Enquanto realizávamos uma cobertura inédita, em busca de dados e explicações, resistimos diariamente aos ataques do governo Bolsonaro, e sua misógina predileção em agredir as jornalistas mulheres. É por tudo isso que desde o último dia 29 de maio — por sinal, data em que a nossa chapa à diretoria foi lançada — estivemos nas ruas das cidades de São Paulo para gritar “Fora Bolsonaro”. Nos últimos meses, carregamos uma faixa que sintetiza o sentimento de nossa categoria: “Jornalistas repudiam os crimes de Bolsonaro”. E a fracassada tentativa de golpe em 7 de setembro evidencia que o cenário vai se agravar nos próximos meses!
Infelizmente, entretanto, a escalada autoritária não é o único problema que temos de combater. As transformações materiais e tecnológicas que se refletem na maneira como a informação é distribuída têm impactado diretamente a nossa profissão. Temos mais dúvidas do que certezas em relação ao nosso futuro. Frente à invasão do segmento de comunicação no país pelas grandes plataformas multinacionais, as empresas, reunidas em seu restrito clubinho de famílias possuidoras dos principais veículos de imprensa do Brasil, não pestanejam em tomar medidas que atacam as condições de fazer jornalismo: demitem jornalistas, reduzem redações, precarizam, são intransigentes com a categoria e já não exibem mais pudores ao retirar direitos e sequer repor os salários pela inflação.
Ah, a inflação. Como boa parte dos jovens jornalistas que hoje são maioria nas redações e demais empresas, confesso que só li nos livros de História os relatos da corrosão do poder de compra dos trabalhadores frente à desvalorização da moeda, que perdia seu valor de hora em hora (literalmente). Mas se não enfrentamos uma inflação de muitos dígitos, vivemos sob a batuta de Paulo Guedes um desastre econômico que atinge diretamente o nosso bolso, com o descontrole dos preços de alimentos, combustíveis e demais serviços essenciais. Nossos salários já não dão conta dos boletos que chegam a cada início de mês. Para os menos privilegiados, e ampla maioria do povo brasileiro, o resultado do governo Bolsonaro é a miséria e a fome em massa. E quem anda pelas ruas do centro de São Paulo sabe bem que não há nenhum exagero retórico na sentença anterior.
Diante de tudo isso, não estamos alegres, é certo. Mas, tomando de empréstimo as palavras do poeta russo, por que razão haveríamos de ficar tristes? Em momentos igualmente duros de nossa história — e foram muitos —, nosso Sindicato demonstrou resistência e lutou de maneira intransigente pela democracia. Esse é o nosso compromisso de ontem, de hoje e de sempre. Quando a dureza da realidade bater à porta, lembremos dos exemplos de Vladimir Herzog, Patrícia Galvão, Perseu Abramo, Audálio Dantas e tantos lutadores e lutadoras de todas as horas. É hora da esperança, não do medo.
É por isso que a nova gestão da diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo se coloca à disposição de você, jornalista, para conversar, mobilizar e lutar. Lutar muito, lutar todos os dias. Seja você um profissional da capital, do litoral ou do interior. Um jornalista de carteira assinada de uma grande redação ou um frila que luta contra a precarização. Nosso trabalho sindical se estende a todas e todos, qualquer que seja a sua atuação profissional. Mas só conseguiremos aprofundar o nosso trabalho se realizarmos isso de maneira conjunta. E é por isso que convido para um compromisso nestes próximos três anos: se você já é si-ndicalizada ou sindicalizado, participe da vida de nossa entidade e convide seus colegas a se juntarem a nós. Se você ainda não se sindicalizou, fica o convite a conhecer o nosso trabalho pelas páginas do Unidade, pelas nossas ações cotidianas ou simplesmente batendo um papo com as nossas diretoras e diretores. Afinal de contas, o Sindicato somos nós!
Thiago Tanji, pela Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo