Com passagem pelo Auditório Vladimir Herzog, do Sindicato, evento procura reafirmar contraposição à elite paulistana de um dos principais abolicionistas de nossa história
Como parte de uma linha de atuação que procura fixar junto à categoria a imagem de jornalistas negras (os) que se destacaram na profissão, integrantes da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) participaram novamente este ano, no dia 24 de agosto, da Caminhada Luiz Gama, atividade realizada por diversas entidades e personalidades negras da capital desde 1991. O evento, que exalta e busca preservar a memória do grande jornalista abolicionista, evoca desde a caminhada do menino Luiz Gama, escravizado, Serra do Mar acima rumo a São Paulo, até seu enterro em 24 de agosto de 1882, aos 52 anos, quando o caixão foi carregado a pé por dezenas de pessoas do bairro do Brás, onde Gama morava, até o Cemitério da Consolação, em um cortejo do qual estima-se que tenham participado 4 mil pessoas, cerca de 10 por cento da população da cidade na época.
Reunidas no Auditório Vladimir Herzog, do Sindicato dos Jornalistas de SP, cerca de 40 pessoas – que observavam as regras de distanciamento e demais cuidados decorrentes da pandemia – assistiram ao ato diante da foto do grande jornalista abolicionista, doada pelo Museu Paulista (Ipiranga) e instalada na parede do auditório desde 2020, acima da placa em sua homenagem ali existente desde 2018. Durante o evento, a Cojira-SP foi representada pelos jornalistas Flavio Carrança e Guilherme Soares, que, junto com as jornalistas Cinthia Gomes e Claudia Alexandre, falaram ao público sobre a importância da data e das iniciativas da comissão para inserir a contribuição de profissionais negros e negras na história da imprensa paulista.
Diferentemente de anos anteriores, a Caminhada Luiz Gama deste ano teve um trajeto que começou no Cemitério da Consolação, onde o jornalista Abílio Ferreira, um dos criadores do evento, liderou a leitura conjunta de um trecho do poema Quem sou eu?, mais conhecido como Bodarrada, entre outras intervenções. Do cemitério, a caminhada seguiu para o Sindicato dos Jornalistas e depois para o Largo do Arouche até o busto de Luiz Gama – um presente oferecido à cidade na década de 1930 pela população negra.
Nessa terceira e última etapa, a atividade, que incluiu um sarau e números musicais, teve seu significado mais amplo resumido nas palavras de Abílio Ferreira: “A gente cumpriu aquilo que planejou para esse ato, que era confirmar a narrativa construída pelos ativistas dos anos 1920-30, quando instalaram uma herma (busto) de Luiz Gama no coração (do espaço) da elite paulistana, constituída por aqueles que se reuniam em torno da academia de direito do Largo São Francisco, ali representados pelos donos daquelas terras, José Arouche de Toledo Mendonça, que implantou a São Francisco, e o segundo proprietário, o juiz Rego Freitas, com quem Luiz Gama teve fortes contendas nos tribunais. Nessa caminhada, a gente confirmou a narrativa da contraposição de Luiz Gama ao poder da elite paulistana”. •