por Juca Kfouri
De uns tempos para cá as palavras passaram a provocar temor tamanho que as pessoas, jornalistas incluídos, começaram a evitá-las.
Algumas, ainda bem, caíram em desuso por politicamente perversas, como denegrir.
Outras por bobagem e ignorância sobre a origem, como criado-mudo, porque seria função de escravos segurar a jarra d’água para os donos da casa-grande enquanto estes dormiam.
Ora, imagine se os escravagistas tinham coragem de dormir com a presença de tamanha ameaça.
Como se vê o politicamente correto comete exageros.
O que não se aplica às palavras, evitadas mais pelos politica- mente incorretos e/ou desonestos mesmo.
SE O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA FAIXA DE GAZA NÃO PODE SER CHAMADO DE GENOCÍDIO, O QUE É GENOCÍDIO?
Xenófobo é uma delas.
Do que chamar um cartola do futebol que xinga o treinador do clube rival de “português de merda”?
Ou um torcedor que grita “macaco” para o jogador adversário?
É demasiado chamá-lo de racista?
“Sua bicha desgraçada” é frase de alguém que não seja homofóbico, provavelmente para encobrir seus desejos mais recônditos?
Quem briga no trânsito e grita que “só podia ser uma mulher mesmo” é o quê? Reles machista ou porco misógino?
Nenhuma das alternativas?
Ora, tenha dó. Ambas as duas — como diria Luís de Camões que um dia escreveu: “De ambos os dois a fronte coroada”.
Se você veio aqui saiba, e não fi que com raiva, que se trata apenas de um nariz de cera, à guisa de introduzir o que realmente importa.
Se o que está acontecendo na Faixa de Gaza não pode ser chamado de genocídio, o que é genocídio?
Se Benjamin Netanyahu não é genocida é o quê?
Se não é um terrorista com muito mais poder de fogo que os do Hamas o que é o primeiro-ministro de Israel?
Por que temer chamar Daniel Ortega de ditador da Nicarágua?
A Jovem Pan deixou de ser uma emissora conservadora para se transformar em veículo de extrema-direita, propagadora de notícias falsas, ou é mentira?
Aqueles comunicadores que de lá foram postos para fora são meros direitistas ou foram parte da intentona golpista que naufragou no dia 8 de janeiro?
As palavras foram inventadas para tentar descrever com o máximo de precisão possível aquilo que está sob o sol.
Suavizá-las as trai.
O nome das coisas é o nome das coisas.
Vamos voltar a dar o nome aos bois?