DÓI, MAS SEGUIMOS EM FRENTE!

Querida leitora e querido leitor do Unidade, como devem ter percebido, desde outubro do ano passado, houve um hiato na publicação de nosso jornal. Podemos explicar alguns motivos para esse atraso, mas nenhum deles foi maior do que a perda de nosso companheiro Cláudio Soares, no dia 27 de outubro. Na página a seguir, temos uma justíssima (ainda que modesta) homenagem a ele, mas seria impossível não dedicar este Editorial à memória de um brilhante dirigente sindical e de um incansável batalhador da luta pela emancipação da classe trabalhadora.

Cláudio, que era secretário de Administração e Finanças desde 2018, tinha papel fundamental na organização de nosso Sindicato. Com calma, gentileza e extraordinária capacidade de trabalho, ele conseguia coordenar o funcionamento de nossa entidade de modo a superar diariamente a conjuntura que enfrentamos nesses últimos anos, resistindo ao governo Bolsonaro, à pandemia e aos sistemáticos ataques contra o movimento sindical e a todas e todos os jornalistas.

Como se não bastasse, Cláudio se desdobrava em diferentes atividades para melhorar as ações do Sindicato e se aproximar cada vez mais de nossa categoria, visitando redações, participando ativamente das negociações com as empresas e compartilhando novas ideias e projetos com o objetivo de tornar a nossa entidade um instrumento concreto de luta. De escrita precisa e edição correta, Cláudio era um grande jornalista, que ajudava a editar este Unidade e revisava cada palavra de nossa publicação antes de enviarmos o jornal para a gráfica. Cuidadoso como era, gostava de dizer que realizar a revisão das reportagens era praticamente um hobby!

Muito mais palavras seriam necessárias para reverenciar a memória de nosso companheiro à altura. Afirmar que o nosso Sindicato sofreu uma perda irreparável e que ainda demorará tempo para processar esse momento de luto é uma dura realidade. Mas sabemos também que a melhor maneira de honrar a vida de Cláudio Soares é seguir em frente, e dizer em alto e bom som que a luta continua e o Cláudio está presente para nos inspirar em nosso trabalho de organizar a categoria e lutar por salários, direitos e dignidade. Cláudio Soares, presente!

Violência contra a categoria diminui, mas ainda preocupa

Apesar dessa duríssima perda, os últimos meses foram de muita mobilização. Em dezembro, fechamos a Campanha Salarial de Rádio e TV, que apresentou grandes avanços em relação aos anos anteriores, com aumento real para todos os salários e o retorno da cláusula do quinquênio, garantindo um reajuste adicional para profissionais que trabalharam por cinco anos na mesma emissora. Diante da organização da categoria, conseguimos pressionar os patrões para o estabelecimento de uma Comissão Paritária que discutirá temas para as relações de trabalho, como a introdução de uma cláusula que trate do combate ao assédio nas redações.

Por sinal, a dignidade nas condições de trabalho de nossa categoria foi um dos temas centrais no mês de janeiro, com a publicação do relatório anual produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que contabiliza os casos de violência contra jornalistas no Brasil. Felizmente, a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro teve consequência imediata para a melhora nas condições de trabalho: em 2023, foram registrados 181 casos de violência, uma queda de 51,85% em comparação aos 376 casos de 2022. Vale lembrar que de 2019 a 2022, Bolsonaro foi o principal agressor de nossa categoria, realizando 570 ataques a jornalistas. Apesar da notícia positiva, os dados indicam uma conjuntura ainda difícil para o livre exercício profissional: os casos de cerceamento à liberdade de imprensa a partir de ações judiciais tiveram um aumento de 92,3% em 2023, com 25 casos contabilizados de “assédio judicial”.

Junto da Fenaj e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), nosso Sindicato tomou uma importante medida em relação à defesa da categoria: em fevereiro, ingressamos com um pedido à presidência do Supremo Tribunal Federal para que sejam divulgados os nomes de jornalistas que foram espionados pela “Abin Paralela” durante os anos de governo Bolsonaro. É fundamental entender a extensão dos crimes cometidos e como esse ataque ao livre exercício profissional afetou, inclusive, o direito constitucional ao sigilo da fonte.

EM MOMENTOS TÃO CHOCANTES DA HISTÓRIA, NÃO PODEMOS FICAR EM CIMA DO MURO: DENUNCIAR OS CRIMES COMETIDOS EM GAZA É TAMBÉM UMA MANEIRA DE AFIRMAR O JORNALISMO

Jornalistas em luta, no mundo todo

Além dessas ações, o Sindicato também organizou atividades para dar luz a assuntos fundamentais que acontecem fora de nosso país. Diante do horror que diariamente nos confrontamos com as dezenas de milhares de mortes na Faixa de Gaza, com um número sem precedente na história recente de jornalistas assassinados (quase 100 profissionais palestinos morreram por ataques das forças israelenses, segundo dados da Federação Internacional dos Jornalistas), produzimos nesta edição do Unidade uma reportagem especial sobre o genocídio em curso na Faixa de Gaza.

No último dia 27 de fevereiro, nosso auditório abrigou um grande ato com o apoio de diferentes entidades jornalísticas para denunciar a morte de jornalistas por Israel, produzindo um documento que cobra de nosso governo federal ações efetivas para dar fim à matança, com a ruptura das relações diplomáticas com Israel enquanto não houver um cessar-fogo na região. Em momentos tão chocantes da história, não podemos ficar em cima do muro: denunciar os crimes cometidos em Gaza é também uma maneira de afirmar o jornalismo como fundamental para a livre circulação de informações.

O assassinato de centenas de jornalistas palestinos, o risco iminente de extradição de Julian Assange para os Estados Unidos (que, na prática, ocasionará em uma prisão perpétua simplesmente pela realização de seu trabalho jornalístico) e o recente fechamento da agência pública de notícias Télam, na Argentina, compartilham uma gênese em comum: os impérios, os poderosos e a extrema-direita empreendem todos os esforços possíveis para subjugar e calar a voz daqueles que ousam lutar por uma realidade distinta da que vivemos, com justiça, solidariedade e paz. Mas eles não serão bem-sucedidos nesse intento. Com todas as dores, mas com muita esperança, resistiremos e venceremos.•

Direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo