Movimento Esmeralda

Por Eduardo Viné Boldt
e Juliana Almeida

“Em 2015, lançamos o programa de compliance e o Código de Ética e Conduta do Grupo Globo. Eles refletem os princípios e valores éticos que sempre foram observados em nossa empresa. O programa tem se mostrado eficiente, mas não descuidaremos de seu constante aprimoramento. Temos observado as profundas modificações ocorridas na sociedade brasileira. Nosso objetivo é que as empresas do grupo globo acompanhem essas transformações e que nosso ambiente corporativo seja cada vez mais seguro, justo e acolhedor.”

É com esse parágrafo que, já na primeira página do Código de Ética e Conduta do Grupo Globo, o presidente do conselho de administração João Roberto Marinho saúda seus empregados e apresenta a terceira edição da publicação. O documento tem 40 páginas e é facilmente encontrado na internet em sua mais recente versão, publicada em novembro de 2021. O programa de compliance e o Código margeiam as relações entre os trabalhadores e a emissora, e definem condutas para as mais diversas situações que possam acontecer entre os envolvidos nas atividades do grupo, em todas as suas empresas.

Como instrumento de gestão, áreas como essas são facilmente encontradas nas estruturas de empresas em diversas atividades econômicas, sendo um setor valorizado atualmente no mundo corporativo. A questão que se coloca é a efetividade desses departamentos para garantirem a construção de um ambiente seguro aos seus empregados, para além das pomposas reuniões de diretoria e conselhos administrativos.

A construção de relações saudáveis *

A revista piauí publicou no dia 19 de maio uma matéria que revela um escândalo contra o Grupo Globo. A reportagem A Globo e o assédio sexual, escrita pelo jornalista João Batista Jr., narra situações de violência ocorridas dentro da emissora, em horário de trabalho, contra uma de suas empregadas. A funcionária, que não teve o seu nome revelado, mas quis ser chamada de Esmeralda Silva, denunciou diversos crimes sofridos durante o seu período na empresa.

TRABALHADORAS DA TV GLOBO SE REUNIRAM EM ATO EM SOLIDARIEDADE À VÍTIMA DE ASSÉDIO MORAL E SEXUAL ESMERALDA SILVA. CASOS COMO O DELA SE SOMAM A OUTRAS DENÚNCIAS E TRAZEM À TONA A INCAPACIDADE DAS EMPRESAS DE RESGUARDAR A SEGURANÇA DE SUAS FUNCIONÁRIAS, MESMO COM A CRIAÇÃO DE PROGRAMAS DE COMPLIANCE E CÓDIGOS DE CONDUTA

A reportagem que dá espaço aos relatos de Esmeralda é estarrecedora. A engenheira e radialista vítima dos assédios conta que houve em seu curto período na emissora – de um ano e nove meses – uma série de condutas criminosas praticadas por quatro funcionários contra ela.

Esmeralda trabalhou na empresa de janeiro de 2017 a outubro de 2018 e, logo nos primeiros meses, sofreu assédio de ao menos quatro funcionários diferentes em seu setor. Os episódios se sucederam desde a sua chegada ao departamento técnico e, com o tempo, foram aumentando de intensidade, chegando ao insuportável. Por ter origem nordestina – ela nasceu na Paraíba –, agressões xenofóbicas e misóginas eram comuns no seu ambiente laboral. Os recorrentes assédios morais e sexuais sofridos por ela criaram um ambiente de terror em seu local de trabalho, destruindo o sonho de trabalhar na maior emissora de televisão do país.

As investidas contra Esmeralda eram muito agressivas e de conteúdo machista. Era comum ouvir frases como “Uma mulher gostosa como você, com esse bundão, não tem como ficar sozinha. Você faz um homem perder o juízo”, relatou à reportagem da piauí.

Cinco meses após a sua contratação, o pior aconteceu. Ela descreve um episódio de estupro dentro do centro de transmissão da emissora, local onde trabalhava. A matéria detalha os acontecimentos e as devastadoras consequências para a vida da trabalhadora. Desde então, Esmeralda nunca mais foi a mesma. A violência sofrida resultou em seu adoecimento, e ela acabou desenvolvendo uma depressão crônica. As cicatrizes do assédio sofrido nunca foram embora, mesmo após deixar a empresa. Por duas vezes ela tentou tirar a própria vida.

Esmeralda moveu uma ação contra a Globo após quatro anos dos fatos ocorridos, quando já estava em sua terra natal. A situação de vergonha e fragilidade em que se encontrava a impediu de dar continuidade às denúncias logo após deixar a emissora.

A Justiça do Trabalho condenou a Globo a pagar indenização à vítima. Após recurso, a sentença foi ratificada pelo Tribunal Regional do Trabalho, que aumentou em mais de 20 vezes o valor da indenização calculada na primeira instância. A emissora tentou um acordo com a ex-empregada, sem sucesso. A empresa então recorreu mais uma vez, questionando um dos depoimentos durante a fase de instrução do processo, e teve o seu pedido negado pelo Tribunal Superior do Trabalho. O processo e seus detalhes seguem em segredo de justiça.

Os agressores não foram levados a julgamento. Esmeralda afirma que denunciou parte dos abusos ainda como funcionária da Globo ao departamento competente. Ao longo do tempo, segundo contou à revista, as respostas recebidas ficaram aquém das suas expectativas. Hoje, dos quatro abusadores citados, três já deixaram a emissora. Ao que tudo indica, segundo a reportagem, um dos agressores permanece no quadro de funcionários.

Responsabilidade com as pessoas *

Na própria sexta-feira em que foi publicada a reportagem, o link da matéria começou a circular entre as funcionárias da emissora. Apesar da gravidade das denúncias, os casos de assédio não eram de conhecimento da maioria dos empregados. “Teve alguém comentando em algum dos grupos em que estou, e a pessoa só colocou a seguinte frase no grupo do WhatsApp, algo como ‘Aconteceu um estupro dentro da Globo? É isso mesmo?’ Acho que foi o que me fez abrir o link na hora. Eu li e voltei para o WhatsApp para ver se alguém nos meus grupos tinha lido, se já tinha alguém comentando a respeito, e ainda não tinha. Aí eu fui em um grupo composto por diversas mulheres jornalistas. Durante o fim de semana o assunto começou a girar e girar no WhatsApp”, comenta Clara**, funcionária da Globo.

As equipes de jornalismo e do Centro de Transmissão e Recepção de Sinais, local onde Esmeralda trabalhava e onde foi vítima das agressões, se organizaram. Em pouco tempo conseguiram mobilizar as trabalhadoras da empresa para um ato simbólico. Após a repercussão da matéria no final de semana, Clara buscou entre os grupos de WhatsApp alguma mobilização por parte das funcionárias, tanto para cobrar uma posição da emissora diante do caso, quanto para oferecer apoio à Esmeralda.

Trabalhadoras de diferentes setores decidiram realizar, como forma de protesto, um ato silencioso. Vestidas de verde, em referência ao nome fictício da ex-colega, criaram o “Movimento Esmeralda”, e, já na segunda feira, dia 22 de maio, mais de 80 mulheres se manifestaram em apoio a ela. O ato extrapolou a redação e foi registrado nos programas da própria emissora, com repórteres e apresentadoras como Ana Maria Braga e Patrícia Poeta aparecendo no ar vestidas com a cor do movimento.

Casos como os ocorridos no Grupo Globo não são isolados. De acordo com o estudo de violência de gênero elaborado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com apoio do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), Instituto Patrícia Galvão, Instituto Mulheres Jornalistas, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Gênero e Número e Repórteres Sem Fronteiras (RSF), realizado em 2021, foram registrados 119 ataques contra mulheres jornalistas ou ataques de gênero, e o principal motivo de agressão é o fato de o autor se apoiar no gênero ou sexualidade da vítima para atacá-la. Entre as atingidas, 85,7% são repórteres ou analistas de meios de comunicação.

ESMERALDA AFIRMA QUE DENUNCIOU PARTE DOS ABUSOS AINDA COMO FUNCIONÁRIA DA GLOBO AO DEPARTAMENTO COMPETENTE, MAS AS RESPOSTAS RECEBIDAS FICARAM AQUÉM DAS SUAS EXPECTATIVAS

A Abraji informa ainda no relatório que 31% dos casos são ataques de gênero. Entre eles, 64,4% são ataques à reputação e à moral, usando a aparência, a sexualidade ou traços sexistas de personalidade para agredir.

Os dados são claros, mas mostram pouco do dia a dia das mulheres que atuam em veículos de comunicação. O caso abalou funcionárias em todas as áreas da emissora. “Uma pessoa foi literalmente violentada no local onde eu trabalho. Só por saber isso, só por saber que foi há tão pouco tempo, provoca uma série de gatilhos na gente. Não é difícil você achar uma mulher que já tenha sofrido assédio no ambiente de trabalho, não é difícil você achar uma mulher que já tenha sido violentada. Eu já fui”, diz Clara.

Outro problema evidente em casos de violência contra as mulheres é a subnotificação dos assédios. O constrangimento vivido pelas vítimas desse tipo de abuso e a necessidade de esquecer a violência sofrida fazem com que a maioria das ocorrências não chegue sequer a ser comunicadas à empresa. Casos com exposição e divulgação, como o de Esmeralda, são, infelizmente, exceção à regra.

Um levantamento realizado pela Mindsight, empresa de recursos humanos, mostra que mulheres sofrem três vezes mais assédio sexual que homens em ambiente de trabalho. Ainda no recorte de gênero, 38% das mulheres já foram ví timas de abuso moral, mas apenas 6,6% registraram algum tipo de denúncia, e o principal motivo para isso é o medo de demissão.

No dia da mobilização, muita gente não sabia o que tinha ocorrido dentro da Globo em São Paulo. Segundo as entrevistadas, o caso não havia chegado “às grandes esferas”. Uma parte importante dos trabalhadores não tinha conhecimento do motivo do ato, e funcionárias que participaram do movimento relatam ter ouvido nos corredores questionamentos como: “Por que vocês estão de verde?”.

As trabalhadoras contaram também ter ouvido risos diante da movimentação. Outras perceberam que havia pessoas sem compreender os motivos e a gravidade da situação. “A gente ficou sabendo de pessoas que foram procurar entender. Mas eu penso que essa falta de informação, das pessoas não terem se informado, não estarem cientes do que aconteceu, foi reforçado pelo fato de a empresa não ter se posicionado”, avalia Clara. Não houve pronunciamento do Grupo Globo frente à matéria publicada pela revista.

O cuidado com nossas informações *

Apesar de trabalharem no principal conglomerado de comunicação do país, foi pela matéria da revista piauí que as organizadoras do movimento e empregados da empresa souberam do caso. Só assim parte dos trabalhadores teve acesso à história e pôde se posicionar sobre o que estava acontecendo na Globo.

No mesmo dia do ato a empresa emitiu uma nota sobre a manifestação, em que dizia:

“A livre manifestação dos profissionais da empresa está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente. De qualquer forma, a Globo reitera que não comenta casos de Compliance e aproveita para reiterar também que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa. Da mesma maneira, a Globo mantém uma Ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação de seu Código de Ética, que são apurados criteriosamente, com a punição dos responsáveis por desvios. Nesse mesmo Código, assumimos o compromisso de sigilo em relação a todos os relatos de Compliance, razão pela qual não fazemos comentários sobre as apurações. Nosso sistema de Compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias.”

Dentre os choques causados pela publicação da reportagem, além da violência exposta, a descoberta de que um dos acusados de assédio ainda compõe o quadro de funcionários causou revolta e apreensão entre as trabalhadoras. “A gente ficou bem assustada com o relato, de saber que uma pessoa tão próxima de nós passou por isso sem que a gente soubesse. E, pior ainda, um deles segue aqui! Um dos quatro elementos! Então, a gente ficou bem chateada, e o mínimo que podíamos fazer era esse movimento, de se unir e de chamar a atenção para uma causa tão importante”, diz Clara.

De acordo com as funcionárias, somente um gestor se manifestou de forma direta. “Nenhum homem veio perguntar para mim: ‘Eu posso vestir verde? Eu devo vestir verde? Vocês precisam de algum apoio?’ Não. Apenas um homem me questionou: por que a gente não foi convidado a participar?”, afirma Giovana*. Quem a questionou nos corredores foi um dos gestores de jornalismo.

Durante a manifestação, ouviram-se relatos indiretos de que alguns gestores, em conversas privadas com jornalistas específicas, as intimidaram a não vestir verde em “frente às câmeras”. A cultura do assédio se manifesta mesmo em um ato simbólico e silencioso, como o promovido pelas trabalhadoras.

As funcionárias entrevistadas pelo Unidade se referiram ao Código de Ética da empresa. O documento, citado na abertura desta matéria, destaca em seu item 4.2: “O respeito ao próximo é uma premissa levada a sério pelo Grupo Globo. Comportamentos abusivos, como assédio moral e sexual, conduta sexual indesejada e bullying, ou outras formas de abuso de poder, bem como agressões físicas ou verbais, ou ameaça de agressão entre integrantes ou terceiros, não serão tolerados em hipótese alguma”.

O texto contempla os desejos de qualquer trabalhador em seu ambiente laboral, mas ao que parece existe uma dificuldade, por parte do Grupo Globo, de transformar as palavras em ações efetivas. Pelo relato feito ao Sindicato, não são oferecidos cursos ou palestras para funcionários sobre assédio sexual ou moral. Esse tipo de treinamento é realizado apenas para trabalhadores em cargos de gestão, o que limita o conhecimento e o acesso aos canais de denúncia criados pela própria empresa às pessoas mais vulneráveis.

A orientação que se tem, segundo as fontes consultadas, é que, caso algum funcionário tenha queixa de assédio ou de alguma situação que fira a sua integridade, as denúncias devem ser levadas ao departamento de recursos humanos do Grupo Globo, ação por vezes vista como insuficiente para o fim da prática de assédio.

A quem se destina esse código*

Maior emissora do país e um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo, o Grupo Globo coleciona denúncias de prática de assédio moral e sexual, envolvendo a empresa em diversas ações trabalhistas. Desde a implantação da Área de Compliance e do Código de Ética, casos ocorridos nos mais variados setores da empresa foram expostos para o público, e só saíram do “sigilo” do compliance graças à luta das próprias trabalhadoras.

Em abril de 2017, uma manifestação conjunta das empregadas chamava a atenção sobre uma denúncia de assédio sexual na empresa. Na ocasião, o ator José Mayer foi acusado de assediar uma figurinista dentro da emissora, no exercício de sua atividade. A figurinista fez a denúncia por meio de uma carta aberta no blog Agora é que São Elas. As trabalhadoras de São Paulo se somaram à luta em um movimento nacional, e vestiram camisetas com a frase “Mexeu com uma, mexeu com todas”. Elas realizaram, dentro da emissora, uma roda de conversa com o objetivo de chamar a atenção para o tema, além de encorajar as vítimas de assédio a fazerem as denúncias.

A articulação do grupo de mulheres deu visibilidade ao caso e no mesmo ano elas elaboraram uma carta assinada por vários empregados, de diversos setores. O documento foi entregue à direção da empresa.

Afastado das produções da Globo desde então, o ator só se pronunciou sobre o caso no começo de 2023, em um programa de televisão, afirmando ser “o símbolo do velho machista, pela repetição de tantos personagens com esse perfil”.

As trabalhadoras se articularam e criaram um grupo de WhatsApp chamado “Mexeu com uma, mexeu com todas”, existente até hoje, que ajudou na mobilização do ato realizado em defesa de Esmeralda. “Esse grupo é bastante restrito, e não consigo dizer exatamente quem são os participantes ou de onde as denúncias partiram. Foi um esforço conjunto de várias pessoas. Com o passar do tempo, notamos que havia muitas funcionárias da Globo se juntando ao grupo. Apareceram muitas mulheres interessadas em saber o que estava acontecendo e em participar das discussões”, conta Giovana. Desde então, a movimentação de funcionárias se intensificou.

Em 2020, a própria revista piauí havia publicado pela primeira vez as denúncias de assédio contra o ator e diretor Marcius Melhem. O humorista chegou a ser afastado de suas atividades, e depois foi demitido. Esse é o caso de assédio de maior repercussão na atualidade, e vem se arrastando em uma briga jurídica amplamente divulgada nos veículos de comunicação, por envolver um grupo de estrelas da emissora.

O debate sobre o caso não ficou fora da discussão das trabalhadoras. “Quando saiu a denúncia sobre o assédio do Marcius Melhem, conversamos muito sobre o caso no grupo. Questionamentos sobre a efetividade do compliance, discussões sobre a culpa que as mulheres sentem, sobre as dúvidas que surgiram em torno das vítimas, e não do assediador”, comenta Giovana.

O caso envolveu ainda denúncia de censura. A Justiça chegou a suspender a publicação de matérias sobre o assunto enquanto as investigações estivessem em andamento.

Em julho de 2021, o colunista Gabriel Vaquer divulgou que a Globo responde a mais um processo por conivência com assédio moral, dessa vez em seu canal especializado em esporte. O então chefe de redação do SporTV obrigava a funcionária denunciante a dar voltas pela redação para exibi-la, constrangendo a trabalhadora. O jornalista autor da matéria informa que a funcionária recebia ofensas do gestor, sendo chamada de “incompetente, desqualificada e despreparada”. As testemunhas do caso comprovaram também a utilização de frases de cunho obsceno, como dizer que ela “estava uma delícia”, e condutas inadequadas, para dizer o mínimo, como beijar a mão da subordinada.

O chefe em questão foi desligado da emissora em 2021. Novamente, neste caso, a emissora foi condenada em primeira instância. Em nota enviada à coluna, a resposta da Globo repetiu o texto vago sobre todo e qualquer caso que chegue a ser investigado pela própria gestão da empresa: “A Globo não comenta assuntos da Ouvidoria, mas reafirma que todo relato de assédio, moral ou sexual, é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento. A Globo não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e incentiva que qualquer abuso seja denunciado. Neste sentido, mantém um canal aberto para denúncias de violação às regras do Código de Ética do Grupo Globo.”

Respeito e valorização *

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) está trabalhando com um canal de denúncias de assédio moral e sexual. “É uma experiência em construção no Sindicato. As vítimas ainda têm dificuldades para falar. Muitas temem perder os empregos ou sofrer perseguições posteriores. Não há uma consciência sobre denunciar para evitar novos casos e mostrar para as chefias que não se pode assediar, que assédio dói e pode levar pessoas a adoecerem. Nosso canal começou na gestão anterior, com essa tentativa de termos procedimentos mais organizados. Mas o Sindicato sempre atendeu e deu encaminhamentos para os casos que chegaram”, conta Candida Vieira, secretária-geral do SJSP.

O procedimento primário é ouvir a vítima. Normalmente, a entidade atende a denunciante com a presença de duas pessoas. Depois, o caso é avaliado junto com o Jurídico e a Diretoria Executiva. Os fatos, dados da vítima, da empresa e toda a história são tratados como confidenciais, e apenas os diretores ou as diretoras envolvidos(as) na apuração têm acesso às informações. Só há a abordagem de forma pública, como a divulgação de uma nota, por exemplo, se houver anuência da pessoa atingida.

“Cada caso é um caso. Avaliamos com a vítima se necessita de apoio psicológico. O acolhimento é fundamental para quem sofre algum tipo de agressão, seja o assédio moral ou o sexual. A maior parte é de mulheres jornalistas. A Comissão de Saúde da Fenaj tem dado respaldo para a do Sindicato”, destaca a secretária. •

* Os intertítulos foram retirados do Código de Conduta do Grupo Globo.

** Os nomes citados nesta reportagem são fictícios, para proteger a identidade das funcionárias da emissora.