Reportagem de Yan Boechat foi a vencedora do 42º Prêmio Vladimir Herzog na categoria “Fotografia”
por André Freire
fotos Yan Boechat
Quantas mil palavras seriam necessárias para relatar o que registraram as imagens captadas pelo repórter fotográfico Yan Boechat no auge da pandemia do novo coronavírus em Manaus? Yan conta que chamou a sua atenção a declaração do prefeito de Manaus, de que o número de mortes em residências estava crescendo, indicativo que o sistema de saúde estava colapsando.
Para o jornalista, estava dada a pauta. Comprou uma passagem de avião, contratou o hotel por conta própria e, decidido a fazer uma abordagem diferente das coberturas fotográficas que vinham sendo feitas, procurou o Serviço Funerário Municipal, que atende a população pobre. Durante mais de uma semana acompanhou os profissionais da saúde recolhendo os corpos em residências, pelos bairros da cidade.
O resultado foi a reportagem fotográfica premiada no 42º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, da qual fazem parte as imagens desta página e da seguinte. A premiação consagra uma matéria crua, implacável e, sobretudo, reveladora da dimensão da tragédia humana evidenciada pela covid-19. E também do vigor da reportagem fotográfica para expor os fatos sociais.
A matéria vai muito além das questões relativas à pandemia. Descreve o cenário socioeconômico e como as desgraças se ampliam quando recaem sobre a população pobre, negligenciada pelas políticas públicas, fragilizada pela desigualdade social, pela espoliação de direitos, como consequência da exploração histórica a que o sistema submete essas pessoas.
São as imagens bem apuradas pelos enquadramentos e planos escolhidos que revelam a precária condição de vida dessa população, traduzida pelas habitações desconfortáveis, pelo mobiliário escasso, pela iluminação tênue, compondo o retrato da desigualdade e da injustiça social inaceitáveis.