Não à guerra!

Sindicato e Fenaj manifestam solidariedade a jornalista russa presa por protestar contra ataques à Ucrânia

por Cláudio Soares

Jornalistas reunidos em Bucha, cidade ucraniana. A imprensa busca garantir o direito à informação, atacado por todos os lados / Foto: Domínio público – Autor não identificado

Nosso sindicato divulgou nota, elaborada com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em solidariedade à jornalista russa Marina Ovsyannikova, detida e ameaçada de processo após ter levantado, em 14 de março, um cartaz contra a guerra na Ucrânia, durante transmissão ao vivo em um telejornal russo no qual trabalha [bit.ly/solidariedadeMarina]. Propusemos, também, que outras entidades sindicais se manifestem, por meio de moção dirigida à embaixada russa (veja ao lado). 

Vladimir Putin, presidente da Rússia, ordenou o início da ofensiva contra a Ucrânia em 24 de fevereiro. Desde então, a guerra e seus horrores estão de volta à Europa. 

A população ucraniana, claro, é a vítima direta dos ataques. O número de mortes é difícil de ser estimado precisamente, e há informações de mais de 3 milhões de ucranianos que saíram do país para fugir da guerra, além de 6 milhões de deslocados internamente. A Ucrânia está destruída, com pelo menos metade de suas empresas fechadas, e a outra parte funcionando de forma precária. A perspectiva de ir para baixo da linha da pobreza paira sobre a grande maioria dos ucranianos. 

O povo russo sofre também, porque as sanções decididas pelos Estados Unidos (EUA) e pelos países da União Europeia fizeram desabar a cotação de sua moeda, o rublo, e elevaram os preços de produtos alimentícios básicos. A inflação em março chegou perto de 17%. Grandes empresas estrangeiras saíram do país, o que elevou o desemprego. Ou seja, as medidas atingem de fato a população comum, e não os governantes. 

Não há, além disso, espaço para protestar contra o conflito, por proibição do governo russo. Milhares de pessoas foram presas por manifestarem-se a esse respeito. Uma lei que Putin fez aprovar às pressas define que é crime desacreditar o exército do país ou chamar a guerra de guerra. Trata-se, na linguagem oficial imposta, de uma “operação militar especial”. Quem desobedecer, fica sujeito a penas de até 15 anos de prisão. 

A grande mídia das potências ocidentais, de outro lado, em geral faz coro com seus governos e se alinha ao governo ucraniano. Minimiza a reação à guerra no próprio interior da Rússia, e assume de forma acrítica as posições da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar entre EUA e países europeus, que dá respaldo – e armas – à Ucrânia. Para não falar em coberturas que mal disfarçam o teor racista, ao diferenciar os refugiados ucranianos “brancos e bem formados” dos africanos ou afegãos que tentam ingressar na Europa.

Direito à informação 

O direito à informação, tão necessário num momento agudo como esse, é atacado por todos os lados. E confirma-se o velho clichê de que, na guerra, a primeira vítima é a verdade. Apesar disso, profissionais de imprensa, entre os quais vários brasileiros, realizam o seu trabalho, arriscando-se no teatro da guerra para trazer os fatos, em condições evidentemente difíceis e perigosas.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), pelo menos sete jornalistas foram mortos enquanto faziam a cobertura da guerra, e o comitê investiga se cinco outros profissionais morreram no exercício de seu trabalho. 

Nossa nota sobre a jornalista russa afirma: “A Fenaj e o SJSP condenam essa violência contra a jornalista, exigem sua imediata libertação, e se manifestam em defesa da liberdade de expressão e do direito de consciência dos jornalistas, direitos democráticos e universais. Independentemente das questões geopolíticas envolvidas e da complexidade deste e de outros conflitos que ocorrem no planeta, profissionais de imprensa têm direito ao exercício da cidadania, e inclusive de se posicionar contra as posições editoriais dos órgãos de imprensa nos quais trabalham”.

Por trás do conflito, estão os interesses dos grandes do mundo, não só os dos oligarcas russos, mas também dos EUA, que buscam, por exemplo, substituir a Rússia no fornecimento de gás a nações europeias. Países da Europa anunciaram a elevação dos gastos militares em seus orçamentos. Há anos, os EUA pressionam esses países a aumentarem suas contribuições financeiras à Otan. Boa parte dos recursos do organismo é direcionada à compra de armamentos fabricados por empresas estadunidenses. Quem produz, quer vender. Para vender, precisa da guerra. Trata-se de uma guerra pelo controle de mercados. A guerra não interessa aos povos.

PROPOSTA DE MOÇÃO EM DEFESA DA JORNALISTA RUSSA MARINA OVSYANNIKOVA 

A jornalista russa Marina Ovsyannikova enfrenta o risco de ser presa por longo período em virtude de ter levantado, no dia 14 de março, um cartaz contra a guerra na Ucrânia, durante a transmissão ao vivo em um telejornal russo no qual trabalha. O cartaz, feito à mão, dizia: “Não à guerra. Não acredite na propaganda. Você está sendo enganado aqui. Os russos são contra a guerra.” A jornalista foi imediatamente presa, levada pelas autoridades e ficou incomunicável durante muitas horas, num ato autoritário e ilegal. 

A violência contra a profissional recebeu o repúdio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), que apoiaram as palavras do secretário-geral da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), Anthony Bellanger: “Nos solidarizamos com a jornalista russa Marina Ovsyannikova, vítima da recente lei de mídia abusiva aprovada na Rússia”. 

Manifestamos nossa posição em defesa da democracia, contra a guerra! 

Liberdade para a jornalista Marina Ovsyannikova! 

• Envie para a embaixada da Rússia no Brasil: embassy.brasil@mid.ru; embaixada.russia@gmail.com, com cópia para o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo: jornalista@sjsp.org.br