Memória: Pagu, jornalista libertária

Carteirinha do Sindicato dos Jornalistas de Pagu, sindicalizada sob o número 429. Reprodução

por Solange Santana

A trajetória libertária e irreverente da jornalista, artista de letras e pincéis, feminista e militante comunista Patrícia Rehder Galvão – Pagu – começou bem cedo. Nascida em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista (SP), sua família mudou-se para São Paulo em 1912. Aos 15 anos, sob o pseudônimo de Patsy, já escrevia artigos para o Brás Jornal.

Patrícia Galvão também foi desenhista e ilustradora, com trabalhos publicados na Revista de Antropofagia, que circulou entre 1928 e 1929. Nessa época, aproximou-se de artistas do movimento antropofágico, em especial do casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, com quem se casou depois, chocando a sociedade conservadora.

Aos 20 anos, participou dos incêndios de protesto, no bairro paulistano do Cambuci, contra o governo provisório de Getúlio Vargas. Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, no qual iniciou sua participação na cidade de Santos, quando lá morou pela primeira vez. Pagu integrava o Socorro Vermelho, uma entidade que atuava na segurança e socorro aos grevistas.

Em 25 de setembro de 1930, nasce Rudá de Andrade, filho da jornalista com Oswald. Com o marido, lança o jornal O Homem do Povo, onde fazia a seção Mulher do Povo, com assuntos relacionados ao feminismo na ótica da luta de classes.

Durante ação numa greve de estivadores, onde o amigo estivador Herculano de Souza morre em seus braços, a jornalista é presa pela polícia de Getúlio, iniciando uma contagem de 23 encarceramentos ao longo de sua vida.

Sob o pseudônimo de Mara Lobo, publica, em 1933, Parque Industrial, considerado o primeiro romance brasileiro a ter operários como protagonistas. Muitos anos após, o romance seria publicado também nos Estados Unidos (1994) e na França (2015).

Pagu fez coberturas jornalísticas nos Estados Unidos, Japão e China. Na França, frequentou a Universidade de Sorbonne e, em 1935, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Quase deportada para a Alemanha nazista, é repatriada com ajuda do embaixador Souza Dantas.

Regressando ao Brasil, separa-se de Oswald de Andrade e mantém sua atuação jornalística e contestatória à ditadura. Patrícia é torturada e presa por cinco anos.

Na prisão, rompe com o Partido Comunista Brasileiro e adere à linha socialista trotskista. Depois, integra a redação do jornal Vanguarda Socialista, junto ao jornalista Geraldo Ferraz, que viria tornar-se seu segundo marido. Dessa união, em 18 de junho de 1941, nasceu o segundo filho de Pagu, Geraldo Galvão Ferraz.

Após quatro anos, publicou com Geraldo Ferraz o romance A Famosa Revista e começa a colaborar no suplemento literário do Diário de S. Paulo.

Nas eleições de 1950, concorreu a uma vaga de deputada estadual, mas não foi eleita. Dois anos depois, entra na Escola de Arte Dramática de São Paulo e passa a levar seus espetáculos a Santos, para onde se mudou.

Na cidade, trabalhou para o jornal A Tribuna, onde chefiou o departamento de Artes. Fez campanha para a construção do Teatro Municipal e incentivou grupos amadores e jovens talentos, como o ator e dramaturgo Plínio Marcos e o compositor Gilberto Mendes.
Era crítica de arte em 1960, quando descobriu um câncer no pulmão. Morreu aos 52 anos, no dia 12 de dezembro de 1962.

Vários trabalhos inéditos foram organizados e publicados após sua morte, como os contos policiais em Safra Macabra, escritos, com o pseudônimo King Shelter, para a revista Detective, editada por Nelson Rodrigues.

Sala Pagu
Sua atividade jornalística de denúncia da exploração sofrida pelos trabalhadores, sua luta contra toda forma de opressão, além da estreita ligação com a vanguarda cultural, fizeram com que o Sindicato dos Jornalistas de SP a homenageasse denominando a sala principal de sua subsede em Santos como “Sala Pagu”. A instalação da placa alusiva está programada após o retorno do atendimento presencial.