Memória: Aristides Lobo, operário do jornalismo e revolucionário permanente

por Alexandre Linares

Uma placa de bronze é encontrada numa caixa de entulhos na Folha de S.Paulo. Um jovem jornalista percebe e recupera a placa, guardando-a. Nela, está escrito: “Nesta redação Aristides Lobo trabalhou 23 anos”. Homenagem de seus colegas de trabalho ao companheiro, presença marcante por mais de duas décadas.

Aristides da Silveira Lobo nasceu em Monte Santo de Minas, no sudoeste mineiro, em 1905. recebeu o mesmo nome do tio, jurista e jornalista republicano, ativo na luta abolicionista.

Em 1923, no Rio de Janeiro, engajou-se nas fileiras do Partido Comunista do Brasil (PCB), logo após sua fundação. Foi fundador da Juventude Comunista. Após dois anos, mudou-se para a capital paulista, como membro da direção regional do PCB. Colaborou intensamente com o jornal A Classe Operária, órgão central do partido. Depois, passou a ser crítico da política de sua direção. Expulso, denunciou essa ação, que atribuiu à “burocracia stalinista”.

Aristides Lobo em 1929, nos primeiros anos de uma atividade profissional marcada pela combatividade

Tornou-se um destacado militante na União dos Trabalhadores Gráficos (UTG) no início dos anos 1930, antes da imposição dos sindicatos oficiais pelo regime do Estado Novo e da fundação de nosso Sindicato. Orador brilhante, segundo seus companheiros, participava ativamente das manifestações públicas e comícios do movimento operário. Foi preso numerosas vezes.

Fez parte da Liga Comunista Internacionalista (LCI), organização vinculada ao combate de Leon Trotsky na Oposição Internacional de Esquerda. Atuou intensamente na produção dos jornais A Luta de Classe e O Homem Livre, órgão da Frente Única Antifascista (FUA).

Aristides foi profícuo tradutor de clássicos. Traduziu, entre outras obras, Fontamara, de Ignazio Silone, sobre as condições de vida e resistência dos camponeses italianos na instauração do fascismo. Colaborador intenso Aristides Lobo, operário do jornalismo e revolucionário permanente por Alexandre Linares da editorial Athena, pioneira dos clássicos da filosofia, traduziu Blaise Pascal, Erasmo de Roterdã, François Rabelais, Dante Alighieri, René Descartes e Cesare Beccaria, além de Madame Bovary, obra máxima de Gustave Flaubert. Entre as obras políticas, traduziu Estado e Revolução de Lênin, e o ABC do Comunismo, de Nikolai Bukharin.

Fundação do Sindicato dos Jornalistas em 1937

Em seu livro sobre a história do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Hamilton Ribeiro conta que, em 1937, Aristides Lobo estava “apalavrado para ir à reunião de fundação do Sindicato naquele dia 15, mas acabou não indo por força maior: recém-saído da cadeia, estava fugido”.

Aristides Lobo faz parte de uma geração de jornalistas perseguida pela ditadura do Estado Novo. José Hamilton Ribeiro registra que “nesse abril de 1937, muitos companheiros que participariam daquela reunião estavam presos, clandestinos e ou escondidos. Entre eles Victor Azevedo, Hilário Correia, Eugênio Gertel, Hermínio Sacchetta, Aristides Lobo . E uma mulher, Patrícia Rehder Galvão, a Pagu”.

Em sua vida profissional, trabalhou como professor de português, tradutor, revisor e redator. Foi bibliotecário do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo entre 1939 e 1948. Passa a trabalhar como redator na Folha da Manhã em 1945.

Em 1957, escreveu e apresentou as teses adotadas pelo 8º Congresso Nacional dos Jornalistas, no Rio de Janeiro.

Morreu em novembro de 1968, e seu corpo foi sepultado no Mausoléu do Jornalista, mantido pelo Sindicato no Cemitério São Paulo. Na redação da Folha de S.Paulo, sua morte causou comoção. “Aristides foi um homem que se fazia respeitar porque respeitava a cada um dos homens. Desaparece quem fez da lealdade o primeiro princípio da ação”, disse o então colega Celso Ming.