Editorial: Jornalistas paulistas, uni-vos!

No dia 15 de dezembro de 2021, quando o clima de final de ano já começava a tomar conta de nosso Sindicato, recebemos uma notícia para acabar com qualquer espírito natalino. A Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp), que incorporou no último mês de agosto a Imprensa Oficial (Imesp), enviou uma carta ao jornalista Cláudio Soares, funcionário da empresa e diretor de nossa entidade, determinando o seu retorno imediato às atividades na companhia. Ele estava liberado do trabalho, para exercício do mandato sindical, desde julho de 2019. Os (poucos) diretores liberados em nossa entidade fazem toda a diferença para dar conta de boa parte das inúmeras atividades sindicais que realizamos. 

Órgão que surgiu com o nascimento da República, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo conseguiu exercer suas atividades sob o jugo de barões do café, generais da ditadura e tucanos de plumagens diversas. Mas não resistiu à política BolsoDoria: em seu primeiro dia como governador paulista, João Doria encaminhou um projeto à Assembleia Legislativa atacando a Imesp e outras estatais. As consequências posteriores foram centenas de demissões. 

Enquanto batalhávamos frente à Prodesp pelo reconhecimento do trabalho jornalístico, outra luta voltava a ganhar força. Jornalistas e radialistas da Rádio e TV Cultura se mobilizavam para exigir reajustes em seus salários. Uma reivindicação sempre justa, mas nesse caso a situação era absurda: com exceção de um pequeno reajuste de 3,5%, em 2018, os trabalhadores da Fundação Padre Anchieta estavam há mais de oito anos sem correções salariais. Para repor as perdas acumuladas, os jornalistas deveriam receber um índice de 57,54% em seus vencimentos! 

Vale lembrar que a Fundação Padre Anchieta, que é responsável pela gestão da Rádio e TV Cultura, é mantida por dotações orçamentárias do governo paulista e por recursos próprios. 

Após muita luta, com a realização de assembleias, protestos e atividades presenciais e virtuais, duas vitórias. Por meio de uma liminar da Justiça do Trabalho de São Paulo, a liberação sindical de Cláudio Soares foi restituída em março: na decisão, a juíza Lavia Lacerda Menendez ressaltou que as atividades da Imesp devem ser mantidas após a incorporação pela Prodesp, reconhecendo a representação do Sindicato dos Jornalistas e afirmando que as atividades relativas à edição e organização das matérias do Diário Oficial cabem aos jornalistas. Além disso, no dia 11 de março, jornalistas e radialistas da Cultura conquistaram 10,33% de reajuste salarial, e correções nos vales alimentação e refeição — um índice insuficiente diante das perdas passadas, mas que reforçou aos trabalhadores que a mobilização é o caminho para a conquista por direitos e salários.

A origem de ambos os problemas têm um denominador comum: os sucessivos governos liderados pelo PSDB, que desde 1995 comanda o estado de São Paulo e implementa uma política de desmonte dos serviços públicos, precarizações e retiradas de direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Como podemos notar nos dois pequenos exemplos dados, nossa categoria é diretamente afetada por tudo isso, não apenas na Cultura ou na Imprensa Oficial, como nas universidades, fundações e demais órgãos vinculados ao governo estadual. 

Por conta disso, esta edição do Unidade conta com um pequeno dossiê que retrata as lutas das e dos jornalistas diante do governo paulista. Nos últimos três anos e meio, João Doria acelerou o processo de sucateamento e destruição do que ainda restava do patrimônio público de São Paulo. Mas não nos enganemos: as demais gestões que ocuparam o Palácio dos Bandeirantes foram tão nocivas quanto. E isso inclui os 12 anos em que Geraldo Alckmin ocupou o cargo de governador. Fatos são fatos. 

Por respeito e dignidade 

No final de abril, celebramos uma boa notícia: o Ministério Público de São Paulo manifestou-se de maneira favorável ação à movida por nosso Sindicato contra Jair Bolsonaro, pelos danos morais coletivos causados aos jornalistas por meio de ataques e ofensas. Em 7 de abril de 2021, Dia do Jornalista, nossa entidade ingressou na Justiça para que Bolsonaro seja impedido de realizar manifestações que ofendam, deslegitimem ou desqualifiquem a profissão de jornalista. 

Enquanto aguardamos uma decisão final em relação à ação, demos início a uma campanha para garantir e defender o livre exercício de nossa profissão durante a cobertura das eleições. Em abril, lançamos o Pacto Pelo Fim da Violência Contra Jornalistas e em Defesa da Liberdade de Imprensa, um documento que recolherá assinaturas de candidatas e candidatos para que assumam o compromisso público de respeitar o trabalho dos jornalistas e impedir ameaças e agressões durante a cobertura do processo eleitoral. 

Como indicam os discursos, gestos e ações escancaradamente golpistas do presidente da República, sabemos que enfrentaremos momentos difíceis nos próximos meses. Por isso, convidamos todas e todos os colegas a se somarem às ações em defesa de nossa livre atuação no período eleitoral. 

Empresas de comunicação também se mostram preocupadas com o atual cenário político, pelo menos em seus comunicados para o público externo. Mas além do apoio moral ao exercício jornalístico, essas companhias também deveriam garantir a reposição dos salários e a manutenção de nossos direitos — há cinco meses, enfrentamos a intransigência patronal das emissoras de rádio e televisão, que se recusam a corrigir os salários pela inflação. Como podemos notar, a luta por dignidade de nossa categoria passa por todos os locais de trabalho do estado de São Paulo, seja no serviço público ou privado. E é por isso que precisamos estar mais unidas e unidos do que nunca! 

Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo 

ERRATA Na edição nº 414, página 19, o primeiro parágrafo da seção Memória continha um erro. Dermi Azevedo ocupou o cargo de secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na gestão 1991-1994, e não entre 1997 e 2000.