Editorial: 2022 e a esperança teimosa

Querida leitora, querido leitor, esperamos que você tenha desfrutado uma excelente virada de ano. E que, entre um gole e outro de espumante, seus pensamentos tenham convergido para um mesmo sentimento presente nas resoluções de Ano Novo de milhões de brasileiras e brasileiros: este ano será o último de Jair Bolsonaro como presidente. Está aí um excelente motivo para começar 2022 com esperança e ânimo renovados — mesmo com a pandemia inspirando todos os cuidados e, sim, sabendo que muito provavelmente ainda teremos adiante nove meses de retrocessos, destruições e todo o tipo de obscurantismo social e cultural emanado do Palácio do Planalto e reverberado por cúmplices, fanáticos e oportunistas (estes, em maioria, especialmente ocupando as cadeiras confortáveis do Congresso Nacional).

É por conta disso que não podemos nos enganar. Se quisermos um 2023 com reais motivos para celebrar e respirar ares menos sufocantes, teremos de lutar neste ano que se inicia. E não é qualquer lutinha, não. Derrotar o bolsonarismo e tudo o que ele representa necessitará de um esforço em todas as frentes possíveis — econômica, política, eleitoral, sindical, cultural… E para realizar tal empreitada, não dependeremos apenas de quem estará na urna (eletrônica!) em outubro. Essa é uma luta de cada uma e de cada um que acredita na permanente construção de uma sociedade digna, justa e verdadeiramente democrática. Trocando em miúdos: é hora de arregaçar as mangas e se preparar para a batalha!

Felizmente, a nossa categoria inicia este ano de maneira afiada. No final de janeiro, pela segunda vez em poucos meses, os jornalistas da Folha de S.Paulo demonstraram sua coragem e capacidade de união para enfrentar os dilemas da profissão e a pressão das empresas, apostando na luta coletiva como meio de garantir trabalho digno e um jornalismo que atenda às necessidades de uma democracia sob ameaça.

Após fortalecerem a histórica paralisação de 10 de novembro (descrita em detalhes nesta edição do Unidade), quase 200 jornalistas da redação da Alameda Barão de Limeira endereçaram uma carta à direção do jornal para promover um debate sério e honesto a respeito das posições editoriais do local onde trabalham, apresentando sua crítica a um texto notadamente racista e contendo afirmações baseadas em distorções históricas.

Podemos até debater se o abaixo-assinado é a fórmula mais eficaz para se posicionar contra os patrões — defendemos que o Sindicato seja o instrumento de representação e luta nesse tipo de embate, tanto para proteger os profissionais quanto para conferir o peso institucional de nossa entidade coletiva diante de qualquer empresa. Mas é inegável a coragem e disposição de todas e todos os signatários, se posicionando publicamente para lutar pela qualidade jornalística da publicação.

Após as ameaças nada veladas escritas pela direção do jornal em suas páginas, nosso Sindicato publicou um longo texto em defesa das e dos jornalistas da Folha, convocando toda a cate­goria a demonstrar apoio irrestrito aos colegas. E tal pedido foi atendido: recebemos diferentes mensagens reforçando a solidariedade entre jornalistas e repudiando qualquer tipo de coerção ao direito de consciência e exercício de cidadania que deve ser reservado a profissionais de imprensa.

Por salários e dignidade

A luta da categoria também está presente na campanha salarial de Rádio e TV, que tem data-base em dezembro. Diante de uma inflação de 10,95% registrada pelo INPC (o índice nacional de preços ao consumidor, medido pelo IBGE), as emissoras paulistas propõem apenas 5% de reajuste — e ainda de modo parcelado! A cláusula de PLR, direito conquistado há décadas pela categoria, também está fora da proposta patronal.

Diante de tamanha intransigência, nosso Sindicato realizou assembleias e diferentes mobilizações nessas últimas semanas. Além de visitas às redações e atividades nas portas das empresas — em atividades conjuntas com o Sindicato dos Radialistas de SP e o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro – organizamos o dia 16 de fevereiro como data para que a categoria se vestisse com roupas pretas, como maneira de protestar e exigir a reposição salarial pela inflação, além da volta da PLR à Convenção Coletiva.

A luta por salários e dignidade, por sinal, também é a palavra de ordem dos profis­sionais da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que resistem às inúmeras tentati­vas de desmonte e destruição promovidas pelo governo Bolsonaro. Após a direção da empresa suspender os direitos previstos do último Acordo Coletivo de Trabalho como maneira de pressionar as trabalha­doras e os trabalhadores a aceitarem um pacote de maldades na nova negociação coletiva, jornalistas e radialistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília prota­gonizaram a maior greve da história da empresa, com 19 dias de duração.

Enquanto o julgamento de dissídio no Tribunal Superior do Trabalho ainda não acontece, nosso diretor de Comunicação e editor do Unidade, Eduardo Viné Boldt, teve sua liberação sindical cassada e foi obrigado a voltar ao trabalho. Como você deve imaginar, não é fácil conciliar o expediente com todas as atividades sindicais. Mas esta edição está muito bem editada, visualmente incrível (obra do grande Fabio Bosquê) e com con­teúdos bem trabalhados por nossa reduzidíssima equipe — e aqui vão os agradecimentos à jornalista Adriana Franco, responsável por abastecer o conteúdo editorial de nosso Sindicato.

A revisão deste Unidade fica por conta do diretor Cláudio Soares, que também vive uma situação difícil: trabalhador da Imprensa Ofi­cial, agora incorporada à Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo), ele também teve sua liberação sindical cassada porque a administração da empresa afirma que não há mais trabalho jornalístico no órgão do governo estadual. Um absurdo que está sendo combatido por nossa entidade — e, sem dar mais spoilers, será tema detalhado da próxima edição de nosso jornal.

Como vocês podem notar, queridas leitoras e queridos leitores, a coisa não está fácil para o nosso lado. Mas não há razão nenhu­ma para desânimo ou pessimismo. Lutaremos incansavelmente, todos os dias, e temos certeza de que 2022 será o ano em que Jair Bolsonaro pegará a via expressa para o lixo da História. Adiante!

Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo