Coluna do Juca: Passa o boi, passa a boiada

por Juca Kfouri

A boiada vem passando não é de hoje. A boiada começou a passar com o impeachment de Dilma Rousseff. Seguiu célere no período Temer e avançou durante a campanha eleitoral que resultou nisso que está aí, diante de ensurdecedor silêncio de nossa grande imprensa.

Tudo valia para tirar o PT do governo, mesmo que, com todos os seus defeitos, jamais ameaçasse a democracia brasileira.

Na verdade, tirar o PT do poder era essencial, repita-se, apesar de seus defeitos, por suas qualidades, a de incluir os que sempre estiveram fora do jogo nacional.

Veja que, mesmo assustada, a mídia volta a dar sinais de que suporta conviver com o obscurantismo desde que menos tóxico como ameaçava até a prisão de Queiroz.

Afinal, para quem normalizou o não te estupro porque você é feia, as arrobas dos quilombolas, o prefiro filho morto a filho gay, matar a petelhada, saudações às milícias, asfixiar a Globo e a Folha, até os mais de 155 mil mortos pela pandemia fazem menos barulho do que quando chegamos aos 100 mil.

Porque para evitar o PT optou-se pelo fascistoide ex-capitão expulso do Exército em vez do democrático professor universitário.

Verdadeiramente um espanto!

Digamos que você também odeie o PT, mas responda francamente: com quem prefere almoçar, com Jair Bolsonaro ou com Fernando Haddad?

Daí a frase eloquente de um dos mais ativos defensores dos direitos humanos no país, o advogado José Carlos Dias: “Só o Bolsonaro para me fazer votar no PT”.

Eis que estamos hoje às portas de eleições municipais essenciais para garantirmos as de 2022 e às voltas com brutal divisão das forças progressistas, mais preocupadas em criticar os que nos são próximos do que os inimigos.

Rodamos feitos baratas tontas, perdemos tempo com factoides e temos sido incapazes de sair de nossas bolhas, de mostrarmos para quem mais precisa o engodo de que foram vítimas em 2018.

A radicalização só interessa aos radicais e, neste campo, os inimigos são mais fortes, pois têm a máquina e as armas nas mãos.

Queimam a Amazônia, queimam o Pantanal, queimamos as pestanas para encontrar como virar o jogo e só vemos a base do governo genocida se manter, surda aos apelos civilizatórios.

Ou reagimos já, ou será tarde demais.